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Exibição da bandeira tricolor afegã desafia talibãs no dia da Independência

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Foto EPA

A exibição pública da bandeira tricolor afegã desafiou hoje os talibãs durante as comemorações do 102.º aniversário da independência do Afeganistão do Império Britânico.

A bandeira dos talibãs, de fundo branco, tem uma inscrição islâmica e o pavilhão nacional do Afeganistão tem três listras verticais de cor negra, verde e vermelha.

Esta é a primeira comemoração da independência em 20 anos com os talibãs de novo no poder, depois de tomarem Cabul no domingo sem encontrar resistência, enquanto o Presidente afegão, Ashraf Ghani, fugiu do país.

Hoje, apesar do receio dos talibãs, recordados pela brutalidade com que impuseram o seu domínio no passado, o país testemunhou alguns protestos civis que se opuseram à substituição da bandeira tricolor do Afeganistão pela que identifica os talibãs e o seu Emirado Islâmico.

Em Cabul, centenas de pessoas tomaram as ruas agitando aquela que até agora tem sido a bandeira nacional do país, desafiando a presença de combatentes que guardam as ruas da capital afegã.

Uma caravana de carros atravessou partes da cidade gritando "Viva o Afeganistão!", com uma gigante bandeira tricolor hasteada dezenas de metros acima das cabeças dos manifestantes, um feito impensável no período inicial do domínio talibã.

Nos últimos dias, tiveram lugar manifestações semelhantes nas cidades de Jalalabad, Khost e Taleqan.

A tricolor afegã tem estado presente no Afeganistão, com algumas modificações no escudo central, ao longo da história do país, especialmente nos últimos 20 anos, após a queda do regime talibã em 2001.

Contudo, os talibãs desafiaram esse símbolo, substituindo-o pela bandeira branca inscrita com o Shahada, a declaração de fé islâmica, que representa o seu Emirado Islâmico.

Os talibãs também comemoraram hoje a independência do Império Britânico, que acontece precisamente quando os insurgentes derrotaram, segundo recordaram, outra "superpotência arrogante" depois da vitória no Afeganistão, após a retirada dos Estados Unidos e forças internacionais.

"Celebramos hoje o aniversário da nossa independência do domínio britânico, tal como derrotámos outra superpotência arrogante, os Estados Unidos. Com a nossa resistência forçamo-los a retirar-se do território sagrado do Afeganistão", afirmaram, em comunicado, os insurgentes.

Ao longo dos séculos, "três impérios arrogantes foram derrotados e expulsos da nossa terra por muçulmanos afegãos", sublinharam, referindo-se primeiro ao fim do domínio britânico e depois à invasão soviética.

Os talibãs conquistaram Cabul no domingo, culminando uma ofensiva iniciada em maio, quando começou a retirada das forças militares norte-americanas e da NATO.

As forças internacionais estavam no país desde 2001, no âmbito da ofensiva liderada pelos Estados Unidos contra o regime extremista (1996-2001), que acolhia no seu território o líder da Al-Qaida, Osama bin Laden, principal responsável pelos atentados terroristas de 11 de Setembro de 2001.

A tomada da capital põe fim a uma presença militar estrangeira de 20 anos no Afeganistão, dos Estados Unidos e dos seus aliados na NATO, incluindo Portugal.

Face à brutalidade e interpretação radical do Islão que marcou o anterior regime, os talibãs têm assegurado aos afegãos que a "vida, propriedade e honra" vão ser respeitadas e que as mulheres poderão estudar e trabalhar.