Novas imagens agravam escândalo de festa clandestina do Presidente argentino
Vídeos da festa de aniversário clandestina da primeira-dama, além de fotos e vídeos de uma celebração política durante a proibição de reuniões sociais, aceleram o desgaste político do Presidente argentino, a três semanas das eleições primárias.
Os três breves vídeos da festa clandestina de aniversário da primeira-dama, Fabiola Yañez, com a participação do Presidente, Alberto Fernández, foram divulgados nas últimas horas pelo próprio Governo argentino como uma estratégia de controlar os danos e de esgotar o assunto rapidamente.
"O mais provável é que o Governo tenha ponderado entre duas opções: permitir o desgaste da imagem do Presidente a conta-gotas ou detonar o desgaste de uma só vez. Optaram por acelerar o assunto agora, difundindo os vídeos antes que caíssem nas mãos da oposição", avalia à Lusa o analista político Jorge Giacobbe.
A pressa por esgotar o assunto explica-se pelas eleições primárias no próximo dia 12 de setembro, quando os argentinos irão às urnas para elegerem os candidatos para as eleições legislativas de 14 de novembro. As primárias na Argentina costumam funcionar como uma primeira volta.
Os vídeos são fragmentos da festa do dia 14 de julho de 2020, aniversário da primeira-dama, quando estava em vigor um decreto elaborado e assinado pelo próprio Presidente, um advogado penalista, a impor isolamento social, proibição de circulação para pessoas cujos trabalhos não fossem essenciais e proibição de qualquer reunião social como formas de combater a disseminação da covid-19.
Nos vídeos, nenhum dos convidados exibe máscaras faciais nem mantém distanciamento social. Em determinado momento, ouve-se o próprio Presidente a tossir.
As imagens deixam claro que se tratou de um jantar na residência oficial, com vinho, bolo de aniversário e champanhe, embora a comunicação oficial tenha indicado, na altura, que "o aniversário da primeira-dama, por acontecer em plena pandemia, seria festejado por 'zoom' e com máscaras de proteção".
Noutro episódio agora revelado, o Presidente aparece também na residência oficial, noutra comemoração realizada em dezembro do ano passado, com mais de 50 convidados, todos deputados da sua coligação.
A oposição vai pedir hoje uma investigação porque vários dos deputados que aparecem na festa terão alegado pertencerem a grupos de risco ou ter contacto próximo com infetados para não participarem, um dia antes, numa sessão no plenário da Câmara de Deputados.
Segundo uma sondagem da consultora Management & Fit, 76,1% (mais de três em cada quatro) dos entrevistados consideram que o episódio da festa clandestina na residência oficial é um caso "grave ou muito grave" e 60,2% consideram que o episódio merece ter consequências.
A Justiça avança com uma investigação para determinar as responsabilidades na violação do isolamento social por parte do casal presidencial e dos seus convidados.
Os artigos 205º e 239º do Código Penal, a que Alberto Fernández fazia alusão a cada novo anúncio de renovação do confinamento, estabelecem penas de seis meses a dois anos de prisão a quem violar as medidas.
A oposição apresentou um pedido de destituição do Presidente, mas as hipóteses de isso acontecer são mínimas porque a oposição não conta com os necessários dois terços dos votos.
"Se alguns pensam que vou cair por um erro que cometi, saibam que me fortalecem", esbravejou o Presidente esta semana, depois do pedido de "impeachment".
"O mais provável é que o sistema político proteja o Presidente enquanto o sistema judiciário adia qualquer definição ou encontre uma forma de minimizar as consequências. A única coisa que vai realmente castigar ou não a conduta do Presidente é a opinião pública através do voto", acredita o analista político Jorge Giacobbe.
A consultora D'Alessio IROL/Berensztein detetou que 24% dos que tinham intenção de votar no Governo nas próximas eleições legislativas, agora pensam votar na oposição.
Desde que surgiram as primeiras informações de uma festa clandestina, o Governo mudou o discurso à medida que as provas apareciam. Primeiro, Alberto Fernández negou qualquer festa clandestina, acabando depois por admitir, mas classificando o episódio como "um erro".
Segundo uma pesquisa da consultora Synopsis, 20,3% dos entrevistados consideram que se tratou de "um erro" enquanto 71,7% vê "imoralidade e delito" no assunto.
A Argentina teve a mais prolongada e estrita quarentena do mundo ao longo de 233 dias em 2020 que, no entanto, não impediu o contágio de 5,106 milhões de pessoas e a morte de 109.652 delas.