Da segurança ao abate: o caminho de Miguel Silva Gouveia da recusa à evidência
Nenhum madeirense quer revisitar os acontecimentos de 15 de agosto de 2017. Mas, o alarme voltou a soar com a queda de um ramo de grandes dimensões no Largo da Fonte a poucas semanas da Festa de Nossa Senhora do Monte.Miguel Silva Gouveia disse repetidamente que os relatórios encomendados pela câmara a especialistas apontavam para a segurança das árvores do Largo da Fonte.Pessoalmente, desde o início pareceu-me que um desses especialistas – se é que houve mais do que um – contratados pelo executivo camarário, à altura liderado por Paulo Cafôfo, foi lesto a desembaraçar a autarquia, quer quanto a problemas na árvore tombada em 2017, quer em relação à segurança das demais existentes no Largo da Fonte.Digo isto por ter presente o dirimir de posições entre o especialista contratado pela autarquia e o ex-diretor de Florestas, Rocha da Silva, acerca do estado de saúde da árvore em questão, aquando das peritagens.Tanto assim foi que, mais tarde, em audição na Comissão Especializada de Assuntos Sociais, Rocha da Silva disse estar convicto que houve “manipulação de provas” na peritagem conduzida pelo especialista contratado pela Câmara do Funchal.Por outro lado, na mesma ocasião, o ex-diretor de Florestas manifestou-se preocupado com a existência de ramos secos e árvores em solos instáveis no Largo da Fonte.Estas declarações foram proferidas em julho de 2018.Bem sei que Paulo Cafôfo escusou-se a prestar esclarecimentos à referida comissão. E bem sei que o então Presidente da Câmara assumira também o compromisso de quatro anos com os funchalenses, pelo que, talvez, na altura, Miguel Silva Gouveia não atentasse ao(s) alerta(s) de Rocha de Silva.Peço desculpa pela ironia. É a ‘arma’ quase que inevitável num cenário em que um detentor de cargo público defende uma narrativa – os relatórios apontam para a segurança – que a realidade infelizmente contraria.Importa perguntar se, ao sustentar essa narrativa, Miguel Silva Gouveia recusa ou desconhece as preocupações tornadas públicas por um especialista, ainda que não o contratado pela Câmara?Não é crível que, perante a gravidade do sucedido em 2017, o eleito ou quem lhe sucedeu (fruto do cumprimento do compromisso do primeiro) não se mantivesse atento a este tipo de declarações. Pelo que, a Miguel Silva Gouveia sobra a recusa das preocupações tornadas públicas.Também, perante a mesma comissão, Raimundo Quintal disse-se preocupado com o estado de duas árvores em particular e criticou o especialista contratado pela Câmara.É muito provável que Miguel Silva Gouveia tenha também recusado as preocupações de Raimundo Quintal, mas o fatídico (porque ignorado) alerta de Rocha da Silva para o perigo dos ramos secos deixam Miguel Silva Gouveia sem alternativa.Por muito que se agarre a relatórios que não casam com a verdade. E por muito que recuse as advertências de homens, cujo percurso profissional e reconhecido saber mereciam outra postura e cuidados, a poucas semanas (dias) da festa de Nossa Senhora do Monte, a Miguel Silva Gouveia não restou outra hipótese que não o abate de árvores.Não há coragem nesta decisão. E menos ainda qualquer motivo de confiança. Só não lhe sobrou alternativas.
Emanuel Camacho