Ignorância que mata
A evidência científica nada diz ao ignorante militante e teimoso
Andamos há tempo demais ao sabor de uma pandemia impiedosa, que operou uma mudança profunda nos nossos hábitos de vida, nos relacionamentos pessoais, etc. Ficamos, pois, reféns dos humores de um vírus multifacetado, que não tem amigos nem poupa ninguém. Mesmo os vacinados, mas já lá vamos.
Ao longo de todo este tempo muito tem sido dito e escrito sobre as causas e as consequências de uma doença que já ceifou milhões, que quebrou economias, destruiu sonhos, adiou planos e colocou para além do limite os sistemas de saúde de quase todo o mundo. As imagens frias e cruéis de filas de ambulâncias em torno das urgências dos hospitais, com gente aflita lá dentro, estão ainda bem vivas no pensamento colectivo.
Nunca a ciência deu uma resposta tão célere como aconteceu com a covid-19. O contra-relógio para vacinar o maior número de pessoas no mais curto espaço de tempo deu frutos e poupou muitas vidas, não tenhamos dúvidas. Mas esta guerra está longe de ser vencida. As variantes resistentes são agora uma nova e real ameaça. Não vale a pena escamotearmos o tema ou negarmos aquilo que é evidente e ratificado pelos especialistas. A covid continua activa e a matar. Enquanto os surtos regressam aos lares, lançando uma vez mais o pânico sobre uma faixa da população já de si fragilizada, regressam com alguma insistência e, sobretudo, ignorância vil, as teses dos movimentos negacionistas, para quem – sejamos claros e objectivos – a vida e a saúde dos outros pouco ou nada importa. Importa sim pequenos mundos, que giram à volta de egos insuflados, cobertos de ‘certezas’ baseadas no lixo que se dissemina por essa Internet fora. Qual filtro, qual ‘fact checking’? Importa reter apenas o que mais convém, como forma de não acatar as recomendações das autoridades de saúde, que insistem (e bem) no uso da máscara e no cumprimento das regras sanitárias. Mesmo que já tenhamos sido vacinados! A evidência científica nada diz ao ignorante militante e teimoso, que na sua cruzada cega e contraditória, gaba-se frequentemente de conseguir quebrar as regras sociais, qual juvenil rebelde, mesmo que a irresponsabilidade coloque em causa a integridade dos outros. Os que diabolizam a evidência científica e os reflexos de uma crise pandémica que pôs o globo agachado e a reinventar-se não respeitam a liberdade da maioria, querendo impor apenas a sua vontade, recusando até a vacina que os pode salvar de uma infecção mortal. Todas as opiniões são válidas, desde que bem fundamentadas. Nenhuma das que já ouvi até agora, propalada por movimentos abjectos têm qualquer fundamentação. Zero! (E excluo os que têm uma posição crítica sobre as muitas posições dúbias tomadas pela Direcção-geral da Saúde e a forma ‘gaga’ como a mensagem é transmitida na maior parte das vezes). São perigosas as opiniões dos negacionistas e fazem-me lembrar aqueles (poucos) que até hoje consideram que o homem nunca foi de facto à Lua, que a problemática das alterações climáticas é pura ficção, que Bolsonaro, Trump e Ventura são estadistas-modelo e que nos filmes não entram actores, mas sim ‘cabeças de gesso’.
Vamos ao que importa, suportado em estudos validados cientificamente, realizados por especialistas. O resto é conversa de café, produzida por treinadores de bancada que têm uma teoria para tudo e mais alguma coisa.