Trump culpa Biden pelos avanços dos talibãs no Afeganistão
O ex-Presidente norte-americano Donald Trump responsabilizou hoje o seu sucessor na Casa Branca, Joe Biden, pelos avanços militares dos talibãs no Afeganistão, classificando a atual situação, marcada pela tomada de 10 capitais provinciais pelos insurgentes, como "inaceitável".
"Se eu fosse neste momento Presidente, o mundo saberia que a nossa retirada do Afeganistão estava sujeita a condições", afirmou Trump, num comunicado citado pelas agências internacionais. "Teria sido uma retirada muito diferente e mais bem-sucedida e os talibãs sabiam isso melhor do que ninguém", prosseguiu. E concluiu na mesma nota: "Conversei pessoalmente com líderes talibãs que entenderam então que aquilo que estão a fazer hoje não seria tolerado".
Donald Trump, que perdeu as eleições presidenciais de novembro de 2020, mas que continua a exercer uma forte influência junto do Partido Republicano norte-americano, não especificou como poderia ter evitado os atuais avanços militares dos talibãs.
Os talibãs tomaram hoje a 10.ª capital provincial numa semana, a cidade de Ghazni, situada apenas a cerca de 150 quilómetros a sudoeste da capital do Afeganistão, Cabul. Em poucos dias, capturaram a maior parte da metade norte do país. Os radicais islâmicos lançaram uma grande ofensiva contra as forças do Governo afegão no início de maio, após começar a retirada final das forças internacionais (Estados Unidos da América e NATO) do Afeganistão.
A saída dos militares estrangeiros do país da Ásia Central deve estar concluída no final deste mês, 20 anos depois do início da sua intervenção para afastar os talibãs do poder, após os atentados de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos, organizados pela Al-Qaida, grupo acolhido no Afeganistão.
Durante a administração Trump, os Estados Unidos da América (EUA) assinaram, em 29 de fevereiro de 2020, um acordo de trégua com os talibãs, no qual Washington se comprometeu a retirar todas as forças militares norte-americanas do Afeganistão antes do dia 01 de maio de 2021. Em contrapartida, os talibãs assumiram o compromisso de iniciar negociações de paz com o Governo afegão, de não atacar as forças norte-americanas e os respetivos interesses no Afeganistão e cortar todas as ligações ao grupo terrorista Al-Qaida.
Negociações diretas, sem precedentes, entre o Governo de Cabul e os talibãs tiveram início em setembro de 2020 em Doha, no Qatar, mas o processo iria estagnar. Após a assinatura do acordo de trégua, a administração Trump reduziu de forma significativa a presença militar dos EUA no Afeganistão e continuou a manter o compromisso de cumprir a data estabelecida (01 de maio) para uma retirada total do país.
A redução do efetivo militar dos EUA no Afeganistão continuou após as eleições de novembro de 2020, e quando Joe Biden assumiu o cargo presidencial, em 20 de janeiro deste ano, apenas cerca de 2.500 militares norte-americanos e 16.000 civis auxiliares estavam em solo afegão.
Ao chegar à Casa Branca, Biden decidiu suspender a operação da retirada total para analisar melhor a situação, tendo confirmado posteriormente, em abril, que o processo ia prosseguir. Inicialmente, a data estabelecida foi o 11 de setembro, mas em julho passado o chefe de Estado norte-americano disse que a retirada das tropas estaria "concluída em 31 de agosto".