Crónicas

Os novos desafios da juventude

Em idade jovem o futuro parece algo bem longínquo e nada se aparenta sequer parecido ao impossível

Hoje, dia 12 de Agosto, comemora-se o Dia Internacional da Juventude, por resolução da Organização das Nações Unidas e que corresponde à data de encerramento da Conferência Mundial de Ministros responsáveis pela Juventude, realizada em Lisboa em 1998. E nunca nos tempos mais recentes o desafio foi tão complexo. Na palavra “jovem” estão ( ou pelo menos estavam ) implícitos um determinado número de conceitos que eram até à data indissociáveis, pelo menos em sociedades minimamente evoluídas e democráticas. A liberdade, seja na construção do pensamento como nas próprias atitudes, a curiosidade, a capacidade de rasgar padrões ou ideias pré-estabelecidas, a inocência de certas convicções mas acima de quase tudo a capacidade e o direito a sonhar. Em idade jovem (exceptuando talvez aqueles que se deparam bem cedo com doenças graves e que têm por isso que lidar de frente com a existência de uma finitude na vida) o futuro parece algo bem longínquo e nada se aparenta sequer parecido ao impossível.

A verdade é que se nos últimos tempos (pré pandemia) o caminho já se afigurava bem mais penoso do que as suas mentes optimistas podiam sequer alcançar, com a instabilidade do primeiro emprego, com o crescimento da procrastinação, a dificuldade em conseguir lidar com o facto de se estudar 4 ou 5 anos para depois começar a receber o ordenado mínimo (ou perto disso), a problemática do ser e do parecer ou a necessidade de um encaixe dinâmico, numa constante consciência critica, virada para a sustentabilidade e questões ambientais, numa era em que tudo é posto em causa até a nossa própria história, agora levam também com uma pandemia. Uma pandemia que os espartilha e os algema contra natura, mas que para além disso os empurra ainda mais para uma vida solitária, onde se convive com o real de maneira virtual e se vive num mundo virtual de maneira real.

Se as relações pessoais e físicas eram já cada vez mais efémeras ou despejadas para segundo plano em detrimento do que mostramos ser nas redes sociais ou do que vivemos na internet através de telemóveis, computadores ou tablets, com os sucessivos confinamentos, o afastamento social e as distâncias de segurança, essa necessidade tornou-se uma verdadeira aventura. Sem querer ter a soberba de determinar as vontades e os desejos dos mais novos, parece-me difícil de perspectivar uma vida saudável e feliz sem essa reconquista dos afetos, da proximidade e da relação que eles mesmo terão que encetar sob pena de se estarem a desenvolver amputados de uma das condições mais básicas da natureza humana. As relações interpessoais.

Uma mente direcionada para a exclusão, sem alimentar intensas trocas de energia, conhecimento e emoções, que se feche quanto à necessidade de interagir com os outros, representará uma mudança de paradigma brutal a que por certo não quereremos assistir. E se há aqueles que por serem mais sociáveis ou por estarem integrados em ambientes mais propícios, rapidamente voltarão a interagir e que sofrem diariamente com todas estas limitações, outros há que viram nesta pandemia uma oportunidade para ficar no seu mundo, sem se dar conta que submergem lentamente numa clausura, que desagua invariavelmente num rio de problemas psicológicos graves e depressões profundas. O desafio é por isso enorme para eles e para todos nós que temos a obrigação de lhes dar ferramentas para que saibam (por eles próprios) encontrar os melhores caminhos. E não imagino esse caminho sem ser em comunidade, sem a consciência de que somos mais felizes se nos soubermos relacionar com os outros e sem a capacidade de sonhar e amar de uma forma profundamente livre e despojada de qualquer preconceito.