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O envelhecimento das mulheres e os preconceitos

Hoje vou falar nos preconceitos em relação às mulheres mais velhas

Durante esta pandemia que estamos a viver, vários preconceitos que estão enraizados na sociedade vieram ao de cima em diversos aspetos que ao longo de alguns dos meus artigos tenho vindo a abordar.

Hoje vou falar nos preconceitos em relação às mulheres mais velhas. O que vou dizer também se aplica, muitas vezes, aos dois sexos e, por isso, não quero deixar de fora da minha apreciação o sexo masculino que se sente também marginalizado só pelo facto de ter mais idade, e por vezes não conseguir, ou conseguir tão bem, depende do ponto de vista, fazer o que faziam quando tinham menos idade.

Mas em relação às mulheres, a situação é muito mais complexa e discriminatória. Em quase todos os aspetos da vida. Depois dos 65 anos, idade em que a lei portuguesa decidiu chamar de, idosa ou idoso às pessoas que façam essa idade, embora contraditoriamente mantenha uma lei para quem quer se reformar tem que trabalhar por exemplo, este ano, até quase os 67 anos, toda a sociedade acha-se no direito de começar a infantilizar o trato com as mulheres como se elas deixassem de ser uma individualidade, como eram até então, para passarem a ser uma espécie de sociedade coletiva.

O tratamento em muitos locais públicos passa a ser o das coitadinhas e até o trato pessoal passa a ser o de “menina” ou então “como estamos hoje”. Alguns/as técnicos/as de saúde fazem isso com a maior naturalidade do mundo, nunca pensando que estão a falar com alguém que é uma pessoa que apenas tem mais idade, mas que continua, com os mesmos gostos e os mesmos desejos, que tinha antes desse número que lhe alcunhou de idosa.

Já um homem com 65 ou mais anos ainda é considerado, por muita gente, como alguém com muitas capacidades, até para exercer cargos públicos. Veja-se o Presidente da República que, com a sua idade, ainda namora e vive separado da namorada. Se fosse uma mulher, já seria considerada velha para o cargo e então se tivesse um namorado e o casal vivesse em casas separadas, seria logo mal vista e alcunhada de “gata assanhada” que não sabe viver sem um homem. Se um homem mais velho anda com uma mulher mais nova é um grande garanhão, mas se uma mulher mais velha anda com um homem mais novo, é porque ele só está interessado no dinheiro dela e não no seu valor enquanto mulher.

Podia dar outros exemplos sobre outras questões em relação à idade das mulheres. Se vivem sós, são logo atacadas por predadores/as que pretendem, na maior parte das vezes, roubar-lhes o que puderem, como aconteceu recentemente com vários casos que vieram a público. Mas existem muitas mais situações parecidas que muitas vezes levam as mulheres sós, que até gostariam muito de ter companhia e de realizar os seus sonhos e desejos, não o fazerem, com receio de abrirem as suas portas a esse tipo de gente que só lhes pode fazer mal.

Também há o preconceito do corpo e da roupa. Se é uma mulher mais velha não deve ter os cabelos compridos que isso até é ridículo. Ou então, se gosta de vestir-se com roupas coloridas, ou mesmo vistosas, e usar roupa diferente mesmo na praia, cuidado que isso pode ser visto de forma leviana e a mulher se sentir olhada como se estivesse a cometer um crime. E, o mais incrível, é que por vezes, são as próprias mulheres a fazerem esse tipo de comentários.

Podia estar aqui a colocar muitos mais exemplos, mas estes já demonstram o quão retrógrada é a mentalidade em relação à idade, sobretudo no que diz respeito à mulher, que até tem uma esperança média de vida superior à do homem. Os preconceitos estão aí. Temos que os combater.