Franceses ameaçam boicotar locais que imponham a utilização do passe sanitário
Centenas de pessoas saíram hoje à rua em Paris para se manifestarem contra a imposição do passe sanitário, ameaçando deixar de ir a restaurantes, bares ou cinemas caso o certificado se torne efetivamente obrigatório no país.
"Eu vou boicotar todos os sítios onde me pedirem o passe sanitário. Os comerciantes vão aperceber-se do nosso boicote e também se vão revoltar contra estas medidas", afirmou Nicole, professora francesa, à agência Lusa.
Tal como Nicole, vários manifestantes entrevistados pela Lusa garantem que vão deixar de frequentar restaurantes e cinemas caso o Conselho Constitucional dê o aval à medida do Governo já aprovada por deputados e senadores que visa impor a obrigatoriedade do passe sanitário em França para grande parte dos espaços públicos.
"Temos todos de ser solidários, e sei que vai ser difícil para os restaurantes e para os cinemas, mas vacinados ou não, não devemos frequentar esses sítios", defendeu Laura, uma artista parisiense que tinha um cartaz a dizer "são estas políticas que nos estão a matar".
Nos museus, cinemas, bibliotecas, piscinas ou ginásios o certificado já é obrigatório, só sendo acessíveis a quem tiver a vacinação completa há mais de sete dias, a quem apresenta um teste PCR ou antigénico negativo com menos de 48 horas ou um teste positivo com mais de duas semanas e menos de seis meses - considerando as autoridades francesas que neste caso a pessoa tem imunidade e risco limitado de contrair Covid-19 e de contaminar outros.
A partir de 09 de agosto, caso a lei, que para além do passe sanitário incluiu uma cláusula de vacinação obrigatória para os profissionais de saúde e outras pessoas que trabalhem em hospitais e lares, seja aprovada pelo Conselho Constitucional, estende-se a restaurantes, hotéis, estabelecimentos médicos (menos urgências) ou transportes como comboios de longo curso.
Philippe, farmacêutico reformado, é contra a vacinação por considerar que não há estudos suficientes sobre a vacina, alegando que os homens se tornaram cobaias devido à covid-19.
"Não há os estudos que normalmente acompanham as vacinas. Há um protocolo a seguir e saltámos várias etapas. Nós somos cobaias e isso vai contra tudo que eu aprendi nos meus estudos de Farmácia", defendeu Philippe, declarando que se ainda estivesse no ativo, não aconselharia ninguém a vacinar-se.
Nas últimas semanas, os sábados em Paris e em diversas cidades francesas têm sido marcados por maratonas de manifestações que vão de manhã à noite, mas que são organizadas por diferentes movimentos e forças políticas.
A Lusa acompanhou a manifestação organizada pelo partido de extrema-direita "Os Patriotas", liderado por Florian Philippot, antigo número dois de Marine Le Pen, entre Montparnasse e o Ministério da Saúde.
Laura diz não pertencer a nenhum partido e que os franceses apenas querem manifestar-se contra estas medidas.
"Eu não sou de extrema-direita, nem as pessoas que conheço que estão aqui. As pessoas vêm de diferentes setores políticos ou nem se interessam pela política. Este tipo de iniciativas não mudam as nossas preferências políticas, eles até podem tentar aproveitar-se desta causa para ganhar notoriedade, mas não somos burros", sublinhou Laura.
A poucos meses das eleições presidenciais, que se realizam em abril, este é um protesto também contra o Presidente da República, com cânticos como "Macron na prisão" e cartazes onde a principal figura é o chefe de Estado.
"Eu votei por ele [Emmanuel Macron]. Ele tinha muitas ideias para reformar a França e eu acho que não devemos ter medo das ideias inovadoras. Mas quanto mais o tempo passa, percebi que não estou de acordo com algumas medidas dele. Ele podia tentar resolver as coisas de outra forma, não através da força", disse Jena, lojista em Paris.
Nicole assegura que o pior ainda está para vir em termos de manifestações e que a rentrée em setembro será um inferno em França.
"A rentrée vai ser um inferno, vamos manifestar-nos todos os dias. Vai ser um caos", prometeu.
Até agora em França foram detetados 6.103.548 casos de covid-19 e morreram 111.855 pessoas devido à doença.