Requalificação (outra) da frente-mar de São Vicente
Dei uma olhada no preconizado para este projecto e pasmo. Insiste-se nos disparates, qualificados de projectos de requalificação. É assim tão difícil entender que o avanço da marginal sobre o calhau vai criar um problema? Numa época em que as alterações climáticas estão em curso e um dos seus efeitos é a subida das águas do mar, ou é ignorância ou má-fé avançar com obras desta natureza. Aliado às intempéries marítimas, que são tendencialmente crescentes, voltamos a interferir com a lógica da ondulação ao se alterar a zona de contenção do mar. Mais grave, esse avanço vem (também) justificado pela necessidade de criar soluções de estacionamento em São Vicente. Como é que se vocaciona uma área da frente-mar, nobre, com uma paisagem singular, plena de potencial, para uma utilização tão medíocre? Um projecto desta natureza deveria, isso sim, criar uma zona de usufruto da população, desprovida de carros. Apenas uma área pedonal em frente aos espaços de restauração, ajardinada, com árvores (parece que está contemplada), com zonas de sombra e mobiliário de jardim para repouso e contemplação. Neste espaço, não deveria haver um piso de asfalto, mas calçada, valorizando-o, e dando aos espaços de restauração, a possibilidade de alguma ocupação com esplanadas. Não faltam espaços de estacionamento laterais, sem impacto numa zona tão privilegiada. Pensem a Madeira com visão, pensem no litoral, deixando-o autêntico, valorizando as características cénicas que a paisagem oferece. Não continuem a projectar todos os espaços para os carros e não para as pessoas. Já se cometeu esse erro por décadas a fio. As soluções de estacionamento devem existir, mas nunca ocupando espaços com tanto potencial e causando tanto impacto no visitante. O que menos se deseja, no litoral, é ter o ruído visual de viaturas em primeiro plano. Aprisionam a mente ao urbano, ao invés de libertá-la para o natural.
Duarte Olim