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Entrará a Democracia em falência?

Gerir a humanidade não é uma responsabilidade de fácil consumação. É já frequente, as pessoas se atropelarem na sua luta diária pela “sobrevivência”, sendo na atualidade visível, que o planeta Terra não suporta a gradação demográfica que vai emergindo, nomeadamente quanto aos seus efeitos ao nível alimentar e a ambiental, e todas as suas sequelas. O crescimento populacional desencadeia inúmeros problemas, como seja o desmatamento, a desertificação e saturação do solo pela agricultura, assim como o crescimento das cidades, carregando consigo inúmeras preocupações. É inquietante que as últimas projeções demográficas mundiais prevejam que em 2050 o número de seres humanos se cifre nos 10 bilhões. Perante este cenário, e embora o modelo de “convivência terrena”, através dos Estados, esteja arquitetado com alguns contrapesos, como seja o estabelecimento uma certa moral, ética, justiça, educação, saúde e outros, será com certeza difícil garantir estas dimensões a toda a população terrena. Aliás, já hoje o é. Mas temos outro problema que nada ajuda. É que alguns dos agentes políticos principais do Estado, não têm vindo a ser nobres na sua incumbência, isto é, não só não cumprem aquilo que apregoam, como também utilizam o Estado para os seus interesses pessoais. “Bem prega Frei Tomás, faz o que ele diz, não faças o que ele faz”. Em teoria, a democracia, desde que cumpridos os seus princípios, é indiscutivelmente o regime político menos imperfeito, mas na prática tem dificuldade em afirmar-se porque um dos seus principais protagonistas, o cidadão, ou não está suficientemente esclarecido, ou estando, age como se fosse um género de cúmplice de algumas das maleitas que afetam democracia. Continua a assistir-se a um alheamento, a um desligar dos cidadãos, prejudicial ao funcionamento do regime democrático, naquilo que são as grandes questões que afetam a sociedade. A esmagadora maioria da população resume a sua participação democrática ao ato de votar, cristalizando assim uma democracia representativa, onde o fosso entre os representados e os seus representantes continua a aumentar. Mas mesmo o regime político assente na democracia, enfrentará muitas dificuldades ao lidar com o crescimento acelerado da população no planeta. A razão é simples, não há recursos suficientes que permitam a saciação a vários níveis de tantas pessoas. Este é um problema ao nível planetário, que potencialmente afetará direta ou indiretamente todas as regiões, incluindo uma região pequena como a Região Autónoma da Madeira (RAM), sem “mecanismos de salvação”. Na maior parte da sociedade ocidental o crescimento da população estabilizou, embora na RAM se assista a uma quebra na natalidade. Sabemos, no entanto, que o problema vem de África, India, América Latina e Oriente, originando grandes migrações destas zonas do planeta para o ocidente. Ora o que aí virá, em resultado deste aumento exponencial da população mundial, será uma abertura para os oportunistas, que espreitam pelas ocasiões propícias à implementação da sua doutrina política. Trazem consigo a vontade de cercear direitos, liberdades e garantias. São os instigadores de um neototalitarismo que está de atalaia pelo seu momento. Que exploram a convivência dialógica que habita em cada um de nós, ser Sapiens e ser Demens, isto é, ora nos revelamos como pessoas de sabedoria singular, ora manifestamos uma insensatez inesperada. Há assim que refletir na procura de equilíbrios, ou uma nova pandemia, os neototalitarismos, potencialmente emergiram. Na sua obra de referência, “As origens do totalitarismo” - Hannah Arendt, há muito que nos alertou que “O domínio totalitário, visa a abolição da liberdade e até mesmo a eliminação de toda a espontaneidade humana e não a simples restrição, por mais tirânica que seja, da liberdade.” A humanidade tem forçosamente de interiorizar a ideia de que vivemos num grande condomínio, ou se quisermos, numa nave espacial em que todos somos simultaneamente tripulantes e timoneiros. Da conceção restrita e singular de uma pequena habitação individual, urge progredir para uma consciência da responsabilidade coletiva pelo voo da nave Terra. Esta compreensão traz nos seus alicerces, além de elementos jurídicos, também fortes e amplos componentes éticos, podendo resultar numa ação humana coletiva, genuinamente preocupada com o planeta Terra.