Autárquicas 2021
São incertas as perspetivas de futuro, dada a imprevisibilidade do evoluir da situação pandémica
Aceitar integrar listas, subscrever programas, envolver-se no debate construtivo e sério, defender linhas de ação na polis, pugnar pelo maior bem comum, merece respeito. Nesta hora em que se confrontam projetos políticos a serem escolhidos pelos cidadãos e pelas cidadãs em 26 de setembro, importa que, como prática democrática, a discussão se faça com base em ideias, propostas e argumentos concretos, em vez de insinuações ambíguas, meros ruídos no discurso.
Não há democracia sem oposição, nem os cidadãos e as cidadãs oponentes são necessariamente inimigos/as; trata-se tão só de adversários/as políticos/as, dotados/as de legitimidade, segundo a constituição. No confronto político, cabe a todos e todas, o respeito pelo exercício legítimo da liberdade de pensamento, da saudável diversidade de ver a realidade, ela própria plural e complexa. Em democracia, o combate será à desigualdade, à pobreza, à ignorância, à demagogia, à injustiça, à autocracia, à corrupção e o seu círculo vicioso de horrores ….
Passados 45 anos desde a primeira eleição autárquica em 1976, muito se evoluiu em termos de desenvolvimento de cidadania, afirmação de maioridade cívica, exercício de responsabilidade coletiva, e prática de democracia. Todavia, como em eleições anteriores, vamos assistindo ao reeditar da retórica habitual dos que, assumindo-se como legítima oposição, acham que as atuais equipas nada fizeram de “estruturante”, e tudo o que aconteceu na vida concelhia não foi além de ações “minimalistas”. A situação pandémica e os seus condicionalismos, a realidade sanitária e a consequente e imprevisível evolução das circunstâncias, também na gestão local da coisa pública, parecem invisíveis neste discurso. Ou a necessidade de prestar auxílio emergente a tantos cidadãos, desprovidos repentina e inesperadamente de fontes de rendimento e capacidade de, sem ajuda, responder às suas responsabilidades pessoais e familiares, imperativo ético imposto à proximidade do poder autárquico. Alguém poderá considerar isto “minimalista”, mas para outros será verdadeiramente “estruturante” da coesão e da sustentabilidade social, no limite, da sobrevivência das populações.
São incertas as perspetivas de futuro, dada a imprevisibilidade do evoluir da situação pandémica, nos altos e baixos de variantes e mutações, na bipolaridade do aliviar e agravar de medidas de contenção. Agora é a Delta, antes foi a Alfa; quem sabe o que virá a seguir? Com o empobrecimento e as desigualdades a agravarem-se, novos desafios se colocam à qualidade do exercício do poder autárquico, perante a emergência das questões sociais na agenda. Maior será o imperativo de incondicional sensibilidade social e política, e correspondente e parcimoniosa gestão financeira. Em tempo de escassez de receitas, dado o abrandamento, incerteza e volatilidade da economia, - o exemplo da atividade turística entre nós, fala por si - maior terá de ser a lucidez, na salvaguarda da vida e da dignidade humana. A exigir dedicação e valentia cívica ao compromisso político. E seriedade no discurso.