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Antigo número dois do governo austríaco começa a ser julgado por corrupção

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O antigo vice-chanceler austríaco Heinz-Christian Strache é julgado a partir de hoje no Tribunal Regional de Viena por corrupção, num caso relacionado com o escândalo 'Ibizagate', que derrubou o Governo austríaco na primavera de 2019.

Há dois anos, Heinz-Christian Strache, líder do poderoso Partido da Liberdade (FPO), de extrema-direita, durante 14 anos, foi confrontando com acusações de corrupção.

O político foi filmado na ilha espanhola de Ibiza, por uma câmara escondida, a oferecer contratos públicos a uma mulher que se passava por sobrinha de um oligarca russo, em troca de apoio eleitoral.

A divulgação das imagens teve o efeito de uma bomba, provocando eleições antecipadas e investigações generalizadas no país, e foi nesse contexto que o telemóvel de Strache foi apreendido e os investigadores descobriram mensagens comprometedoras.

O visado, de 52 anos, é suspeito também de intervir para que uma clínica privada tivesse ligações com a segurança social.

O dono da clínica Walter Grubmüller - que era um financiador do FPO - convidou Strache para o seu iate e também para a sua casa de férias na ilha grega de Corfu.

De acordo com trocas de SMS examinadas pelos investigadores, Heinz-Christian Strache perguntou abertamente ao seu interlocutor "que emenda à lei" queria para que o seu estabelecimento, especializado em cirurgia estética, "fosse finalmente tratado com justiça".

Em resposta, o Grubmüller indicou que apresentaria um projeto de texto na sede do FPO.

Naquela época, Strache estava a negociar com os conservadores para formar uma coligação. Uma vez no poder, a extrema-direita viu-se com o dossier da saúde.

A legislação foi alterada pouco depois, permitindo que a clínica obtivesse a aprovação junto da segurança social. Segundo estimativas de especialistas, tal vantagem pode beneficiar de fundos públicos no valor anual de 2,2 milhões de euros.

O político pode ser condenado a uma pena de seis meses a cinco anos de prisão casos se provem as acusações.

Além do caso que começa a ser julgado hoje, Heinz-Christian Strache também é acusado de desviar dinheiro do partido em mais de meio milhão de euros.

Strache afirmou ser vítima de uma campanha de difamação.

Já o FPO, prejudicado pelas divisões, caiu de 26% nas sondagens de 2017 para apenas 16% em 2019.

O partido acaba de eleger um novo líder: o ex-ministro do Interior Herbert Kickl, responsável por restaurar a imagem desse movimento fundado por ex-nazis na década de 1950 e que hoje tem uma retórica hostil ao Islão e aos refugiados.

Além desse caso, outros políticos encontram-se na mira da justiça após a transmissão do vídeo, incluindo recentemente o chanceler austríaco, o conservador Sebastian Kurz.

Os magistrados querem saber se o líder de 34 anos mentiu conscientemente em 2020 perante uma comissão parlamentar, ao negar qualquer intervenção na nomeação de um familiar à frente de uma empresa pública.