Reservas da Biosfera da UNESCO, 50 anos a celebrar a vida
Conservar, a natureza, a história, cultura e património, sem que isso implique conflito ou constrangimento ao bem estar das pessoas
Cinquenta anos depois da sua criação, o Programa “O Homem e a Biosfera da UNESCO” surpreende, pela actualidade da sua mensagem e propósito, relembrando a celebração da vida enquanto motor que anima mais de 270 milhões de pessoas que, em 129 países, habitam nos 714 sítios declarados como Reservas da Biosfera pela UNESCO. Mais do que locais representativos e com valores naturais relevantes ao nível da biodiversidade e ecossistemas, onde a conservação e utilização sustentável contribui para assegurar os serviços dos ecossistemas fundamentais para o desenvolvimento das suas comunidades, as reservas da Biosfera são pioneiras na restauração ecológica e no reconhecimento do contributo do conhecimento tradicional e local na construção de paisagens humanizadas que contam histórias únicas da relação entre as pessoas e a natureza. Pessoas de geografias e culturas tão diversas e naturezas que vão desde as altas montanhas ao mar alto, desertos, zonas costeiras, florestas tropicais, savanas, mangais, estepes, zonas húmidas e outros ambientes, têm, em comum, o compromisso de procurar soluções para um desenvolvimento que não se limite ao curto prazo ou à liquidez do lucro imediato.
Conservar, a natureza, a história, cultura e património, sem que isso implique conflito ou constrangimento ao bem estar das pessoas; inovar na promoção e utilização do conhecimento, orientado para oportunidades de valorização do território e das suas comunidades; cooperar, partilhando soluções e fomentando a solidariedade, a inclusão e a paz, são critérios a que voluntariamente as reservas da Biosfera e suas comunidades se obrigam quando, voluntariamente, se propõem integrar a rede Mundial de Reservas da Biosfera e as suas diferentes redes temáticas. Esta visão, programática, encaixa-se em qualquer contexto relativo a qualquer reserva da biosfera, seja ela uma diminuta porção de território com menos de cem quilómetros quadrados ou a imensidão dos 78 milhões de hectares da reserva da biosfera da Mata Atlântica no Brasil. A riqueza de experiências de sucesso e de estimulantes e inovadoras soluções que acontecem em muitas das reservas da Biosfera contrasta com as dificuldades tradicionais em as comunicar, a que se junta, também, a tendência para a valorização mediática das más notícias, fazendo jus ao dito “no news, good news”, o que remete as boas notícias ao papel de não notícia. A história do sucesso da restauração dos mangais da reserva da Biosfera de Can Gio nas Filipinas, que resolveu o problema da protecção das suas comunidades face aos ciclones, salvando milhares de vidas e permitindo a recuperação de atividades económicas associadas à exploração dos mangais, merece ser contada e conhecida. A fantástica ação de erradicação do plástico dos espaços naturais e redução da sua utilização na remota e pequeníssima ilha do Príncipe, ou a reconversão da cocaína em cacau na Reserva da Biosfera de Sierra Nevada, Colombia, são outros exemplos, entre milhares, de ações concretas, reais e efectivas, promovidas em reservas da Biosfera. Espaços de diálogo e concertação na procura de soluções e caminhos para o desenvolvimento sustentável, locais onde natureza é sinónimo de desenvolvimento, plataformas de cooperação e promoção da paz, por definição, as reservas da biosfera assumem-se como postos avançados para a transformação necessária para um futuro que dê expressão à visão e estratégias de um mundo verdadeiramente sustentável, justo e inclusivo. Isto será sempre celebrar a vida, tal como se vem a fazer desde há cinquenta anos, chamando mais pessoas e promovendo mais natureza.