Costa quer "confrontar" diferentes visões sobre o modelo futuro da Europa
O primeiro-ministro defendeu hoje que a presidência portuguesa do Conselho da União Europeia deixou várias "sementes", uma das quais para um profundo debate em que se confrontem as diferentes visões sobre o modelo futuro da Europa.
Esta posição foi transmitida por António Costa no discurso que encerrou a sessão pública de balanço dos seis meses de presidência portuguesa, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, após intervenções da secretária de Estado dos Assuntos Europeus, Ana Paula Zacarias, e do ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva.
Com vários membros do Governo sentados nas primeiras filas da plateia, o primeiro-ministro considerou que a presidência portuguesa deixou pelo menos quatro sementes, desde o debate sobre a governação económica da Europa, o plano para a dimensão social e a abertura ao exterior da União Europeia em contraponto com uma perspetiva protecionista.
Mas foi no capítulo da conferência sobre o futuro da Europa que o líder do executivo português deixou mais avisos.
"Espero que não seja um debate entre Estados-membros, um debate sobre instituições, mas que esteja centrado nas aspirações dos europeus. Temos de nos centrar no debate sobre o futuro da Europa, porque, com franqueza, é necessário confrontar as diferentes visões que hoje existem no seio da União Europeia", advogou.
De acordo com o primeiro-ministro, "não vale a pena iludir fingindo que não há dúvidas sobre o que deve ser a União".
"Alguns, verdadeiramente, gostariam que a UE não fosse União, mas que fosse algo que já foi e deixou de ser, limitando-se a um mercado interno que gerasse maior valor acrescentado do ponto de vista interno e ponto final. Hoje a União Europeia é muito mais do que isso", frisou António Costa.
Na sua intervenção, o primeiro-ministro fez questão de salientar a sua defesa em relação a uma União Europeia assente na "diversidade" e não num modelo de uniformização, falando mesmo que a diversidade é mesmo a "maior riqueza" e "maior força" da Europa.
"É a partir da capacidade de integração, de um desenvolvimento descentralizado em termos de inovação, que nós podemos ser mais competitivos à escala global", defendeu - um ponto que mais à frente retomou para reivindicar que a presidência portuguesa deixou "uma semente para uma Europa mais aberta ao mundo e mais cosmopolita", dando como exemplo a cimeira (por videoconferência) com a Índia.
No seu discurso, o primeiro-ministro destacou também a cimeira social realizada no Porto, "onde foi deixado um plano de ação para o desenvolvimento do pilar social".
"Para que as transições digital e climática tenham sucesso, é preciso que ninguém fique para trás, todos se sintam integrados. Sabemos que o medo alimenta o populismo", advertiu.
António Costa deixou ainda mais um recado, este dirigido às correntes mais ortodoxas no plano financeiro: "A presidência portuguesa lançou o debate sobre o futuro da governação económica da Europa".
"É um debate difícil, mas, depois de duas crises económicas profundas, não é possível deixar de voltar a olhar para o sistema de governação económica da Europa. Este sistema não se esgota nas regras da política orçamental. Tem de ser mais ambicioso", vincou.
A quarta presidência portuguesa da União Europeia terminou em 30 de junho, passando o testemunho à Eslovénia à frente do Conselho da UE nos próximos seis meses.
O semestre português foi encerrado, na quarta-feira, com a Cimeira da Recuperação, organizada pelo Ministério das Finanças e que juntou em Lisboa ministros europeus, comissários, eurodeputados e especialistas para debater a reforma da economia europeia após a pandemia de covid-19 e o modelo de governação económica da UE.