Êxodo da Venezuela poderá atingir 7 milhões de pessoas até Março de 2022
A Organização de Estados Americanos (OEA) alertou hoje que o número de venezuelanos que fogem da crise política, económica e social na Venezuela, poderá atingir os 7 milhões no primeiro trimestre de 2022, "ultrapassando o êxodo na Síria".
O alerta foi dado pelo Grupo de Trabalho da OEA para a Crise de Migrantes e Refugiados Venezuelanos num relatório, divulgado hoje, que adverte ainda que a reabertura das fronteiras e o agravamento da crise tornará o êxodo de venezuelanos do seu país no maior do mundo.
"Os dados que publicamos neste relatório são uma atualização sobre a crise dos migrantes e refugiados venezuelanos, que ao dia de hoje, com mais de 5,6 milhões, é a maior crise do género da história da região", considerou o coordenador do Grupo de Trabalho, David Smolansky, durante a apresentação do documento.
O relatório, de 32 páginas e divulgado em castelhano, refere que "o número (atual) de migrantes e refugiados venezuelanos é superior ao total da população de 100 países e territórios" entre eles "a Noruega (5,3 milhões de cidadãos residentes), a Costa Rica (5 milhões), a Nova Zelândia (4,9 milhões), a Irlanda (4,9 milhões) e o Panamá (4,2 milhões), entre outros".
O documento sublinha que "há migrantes e refugiados venezuelanos, conhecidos como 'caminantes' (caminhantes), que podem caminhar até 4.000 quilómetros a pé, através do continente (americano), para chegar a outro país".
No relatório, o Grupo de Trabalho afirma que "apesar de não sofrerem os efeitos de uma guerra convencional nem de uma catástrofe natural, os venezuelanos fogem diariamente devido a cinco razões fundamentais: Emergência humanitária complexa, violação sistemática dos direitos humanos, insegurança, colapso dos serviços básicos e custo de vida elevado".
Segundo a OEA, "um em cada três venezuelanos enfrenta condições de fome" e "desde 2014" registaram -se"18.093 execuções extrajudiciais realizadas pelas forças de segurança do Estado ou 'coletivos' (motociclistas armados afetos ao regime)".
Citando o Observatório Venezuelano de Violência, o relatório afirma que "Caracas é a cidade mais violenta da América do Sul", onde "366.000 pessoas foram assassinadas entre 1999 e 2020" e, segundo a edição de 2020 do Global Peace Index 2020, "a Venezuela é o país menos pacífico da região e está entre os 15 países menos pacíficos do mundo".
Acresce que os venezuelanos enfrentam cortes diários dos serviços públicos como luz e água, precisando que em 2020 "se registaram 157.719 apagões elétricos" no país e que "92% dos lares não é abastecido de água de forma contínua".
Por outro lado, explica que a Venezuela "é o país com a inflação mais alta do mundo (6.500%)" e, relativamente a dados de 2020, tem "a economia mais miserável do mundo pelo sexto ano consecutivo".
O relatório afirma ainda que, "apesar de as fronteiras estarem fechadas devido à pandemia da covid-19, o número de migrantes e refugiados venezuelanos continua a aumentar", estimando "que entre 700 e 900 venezuelanos fogem diariamente do seu país através de passagens irregulares da fronteira".
Segundo a OEA, "apesar da recente Conferência Internacional em solidariedade com os migrantes e refugiados venezuelanos, na qual houve importantes doações para responder a esta situação de emergência, o financiamento para crise equivale a um décimo do que foi alcançado para atender a crise de refugiados sírios".
"Enquanto a ajuda aos refugiados sírios é em média de 5.000 dólares por pessoa, no caso dos refugiados venezuelanos é de 480 dólares 'per capita'. (...) Sem uma resposta global nem financiamento maciço, a crise de refugiados venezuelanos projeta a converter-se na maior e menos financiada do mundo" conclui o relatório.