O olímpico desastre português
O desporto devia ser incentivado como um todo, pelos benefícios evidentes para a saúde
Não é preciso esperar pelo fim da participação dos atletas portugueses nos jogos olímpicos, para falar do olímpico desastre português, porque o título, ao contrário do que possa parecer, nada tem a ver com o desempenho dos heróicos atletas que representam as nossas cores. Pessoas como nós, que se entregam de corpo e alma ao desafio de levar a nossa bandeira mais longe, tantas vezes com evidentes sacrifícios pessoais. Atletas que dão tudo o que podem e que têm, para nos encher de orgulho, ultrapassando dificuldades, batendo-se até ao limite das suas forças e que a grande maioria das vezes se sentem ( presumo eu ), sozinhos num país, que acha que o desporto é só futebol e que a única coisa que sabe fazer, é gozar com o facto da nossa participação redundar em poucas medalhas e criticar a prestação, quando só chegar até ali é um verdadeiro desafio. Mas vamos por partes.
O desastre começa nos nossos governantes, que se acotovelam para ir assistir aos jogos europeus ou mundiais de futebol, mas que não ligam patavina às outras modalidades. Estende-se depois ao resto da sociedade. Não existe cultura desportiva em Portugal. As pessoas, pura e simplesmente não seguem nem se interessam. Só se chocam quando os nossos jornais não fazem capas com os feitos dos nossos atletas, quando isso é apenas o reflexo do que se consome cá no burgo. Nós prestamos mais atenção a um jogo treino de pré época dos nossos clubes, do que às provas dos jogos olímpicos onde intervêm os nossos atletas. Não nos entusiasmamos, não vibramos, não queremos sequer saber. Só sabemos criticar no fim. Lá nisso somos muito fortes. Alguém conhece os nomes dos nossos judocas, dos nossos jogadores de andebol, das regatas ou do hipismo? Zero. Só queremos é resultados. Mas para termos resultados, precisamos de muitas coisas antes que nos falham.
Basta um olhar simplório para o dinheiro investido na missão portuguesa, em comparação por exemplo, com a espanhola ( per capita ), para percebermos o que não estamos a fazer bem feito. A maioria das pessoas em Portugal, gosta de desporto mas é de ginásio, para alimentar o culto do corpo, que lhes possa trazer dividendos nas redes sociais. Não conseguimos apoiar de uma forma consistente, quem se quer dedicar à competição, não atraímos os praticantes para investir no treino e acabamos por ver muitos, na triste condição de ter que optar por outras profissões, por não terem condições para suportar tudo o que implica uma dedicação exclusiva, a um desígnio que devia ser estratégico para todos nós. Não há uma estratégia, não há uma aposta séria. Só nos lembramos que existem, quando de 4 em 4 anos lá aparecem esses Jogos no meio das férias.
O desporto devia ser incentivado como um todo, pelos benefícios evidentes para a saúde e porque deve ser parte integrante da cultura de um país, que se quer inclusivo e orgulhoso dos seus. Basta ver o exemplo das Filipinas. Um País sem história no desporto, mas que há dois anos decidiu apostar forte na ginástica no solo, contratando o melhor treinador japonês e agora foi recompensada com a sua primeira medalha. Por cá continuamos à espera de um rasgo de genialidade ou de um golpe de sorte para conseguir alguma. Queixamo-nos de quê? Só nos podemos queixar de nós próprios.
P.S. Obrigado aos 92 que mesmo com pouco apoio vestem com orgulho a nossa camisola no Japão.