Viver sem angústias
Em 2060, 35% da população residente na Madeira terá 65 ou mais anos (dados cooptados das previsões demográficas – INE)
Atualmente, assistimos a um aumento progressivo do peso dos mais velhos face à população em geral. Estes dados não têm sido tratados e ponderados nas políticas que os governos têm processado, com exceção dos considerandos relativos ao TSU, onde muito se tem discutido, mas sem que se entre na pormenorização dos impactos futuros dessa taxa. Confesso que não sendo a minha especialização, não tenho argumentos para debater neste fórum.
Por outro lado, e devido à melhoria significativa que a saúde tem atuado sobre o envelhecimento, vimos a assistir a um empurrar para a frente a longevidade dos concidadãos. Segundo a mesma fonte, a esperança de vida cotar-se-á nos 90 anos, nessa mesma data. Certo será o encararmos esta realidade com pragmatismo e sensatez, já que pouco ou nada se conhece no sentido de dar condições para que possamos encarar a longevidade sem sobressaltos e angústias. O que conhecemos está baseado sobretudo em argumentos muito privados e não em políticas públicas.
Se é verdade que a nossa esperança de vida aumenta, não será menos verdade que os sem abrigo estão incluídos nesses objetivos. Não será certamente com mais uma sopita aqui ou acolá que se irá resolver a indignidade com que estes concidadãos são tratados. Não será também com mais ou menos “abrigos” que assistimos condignamente quem, por razões várias, viu o seu teto desabar; viu a sua dignidade abalada; perdeu o seu emprego; perdeu o seu amparo familiar; deixou-se influenciar por abusos de álcool e ou drogas; não teve o apoio atempado para todas estas questões, levando-os ao desespero e ao recurso da mais indigna das soluções: tornar-se num “sem abrigo”. A assistência médica a estes indivíduos tem que ser encarada e enfrentada em toda a sua plenitude. Toda a política para a longevidade não poderá nunca ser levada a cabo sem que se considerem estes indivíduos incluídos na solução.
Darmos “vales dentistas” às crianças e esquecermo-nos dos sem abrigo, não me parece uma boa política. Deixarmos sem óculos estes indivíduos, não será certamente um bom desiderato. Eles estão identificados e não serão assim tantos que não possamos fazer muito mais por eles.
Os que não têm dificuldades de ordem económica, encontram soluções dignas e já razoavelmente processadas. Claro que mesmo estes terão ainda, face a esta realidade futura, que se reorganizarem e encontrarem outras formas de longevidade. Será com políticas bem pensadas e inovadoras que ajudem a encarar esta realidade, que estamos todos muito esperançados.
Tarda a saber-se o que passa pela cabeça de quem nos governa, já que esta matéria deveria ser discutida e escrutinada por todos. Os debates públicos sobre a matéria deveriam ser uma constante.
Penso que será necessário que se legisle genericamente, sobretudo de onde e para quem se deverá orientar estas políticas. Por outro lado, deverá deixar-se em aberto quase tudo, de modo a que, se possa desenvolver na discussão, programas bem delineados.
Não me cansarei de “bater nesta tecla”, porque não gostaria de continuar a ver os velhos da nossa terra, descuidados: com falta de dentes; óculos não muito adequados; roupas desajeitadas; dificuldades no caminhar... entretidos numa mesa de jardim jogando às cartas... sendo desperdiçados recursos humanos e tempo, sem rumo nem sentido.
Uma política para a longevidade trará necessariamente orientação pública e política para que o futuro possa ser encarado com mais alegria e solidariedade.
É fundamental e imprescindível que encaremos esta realidade com objetividade e sem rodeios ou “rodriguinhos” já que, de acordo com as estimativas, existem hoje 217 velhos por cada 100 jovens e em 2060 existirão 420/100 (ver mesma fonte, como inicio esta reflexão) e não pensemos que serão somente os “ativos” os que irão suportar os velhos. Tenhamos imaginação e inteligência, no sentido dado pelo António Damásio (prever o futuro) para que possam os nossos netos encarar a vida com folga suficiente para viverem também eles condignamente!