Artigos

Alka-Seltzer ou a azia de uma honesta ladroagem

Ladroagem significa, segundo os dicionários, ou o acto de roubar ou o conjunto dos ladrões.

Tanto faz! Seja o acto ou seja quem o pratica, individualmente ou em conjunto, provoca-me azia.

Provoca-me azia o roubo puro e simples, o apropriar-se de alguma coisa, de um bem, tangível ou intangível, por parte de quem não se esforçou minimamente para o conseguir criar.

Provoca-me azia a “esperteza” com que alguns acham que tudo podem só porque têm alguma posição de poder.

Provoca-me azia saber que há Salgados, Berardos, Costas (o Carlos e o António) e Centenos, Sócrates e quejandos e tantos, tantos mais, que foram (e vão) espoliando património que não é propriedade sua, uns com a complacência dos outros debaixo de uma capa do “interesse público”, afinal mais privado que público.

Provoca-me azia a forma como muitas vezes somos tratados e espoliados por pirraça de alguns políticos que quando em posição de poder têm atitudes que repudiariam se as mesmas lhes fossem dirigidas.

É o Presidente da Câmara que “precisa” que a estrada passe no terreno do vizinho de quem nunca gostou e expropria-lhe parte ou a totalidade do terreno, é o Deputado que se faz valer da posição para obter benesses que não teria se não tivesse aquela posição, é o Director de um qualquer departamento que se vale da posição para através do serviço público obter vantagens privadas (ofensas públicas, desculpas privadas), enfim um ror de pequenas formas de ladroagem muitas vezes chamada de corrupção, que é feita à vista de todos, com consentimento de toda a hierarquia, que sabendo bem que a sua posição poderá mudar em actos eleitorais vindouros tudo fará para assegurar um lugar num qualquer agente privado com quem tenha tido relação, digamos, mais íntima.

O estado espolia património às Famílias (já aconteceu à minha!), roubando, primeiro através de nacionalização e depois através de negociatas mais ou menos obscuras, vendendo o que não tinham criado a quem nada fez para merecer a sua posse

(os políticos sabem bem fazer isso - oferecem a quem lhes faz jeito o que não sabem, por incompetência, criar, guardando para si um lugarzinho nas administrações das empresas para quando a política terminar).

A azia advém do medo que sentimos de fazer valer a liberdade que queremos ter de poder falar abertamente sem medo de represálias que com certeza virão, tal como aquela do terreno expropriado ao vizinho.

O receio de fazer alguma coisa, de tomar uma atitude quando nos sentimos ameaçados, seja física ou psicologicamente é o que normalmente se define como medo. Podemos dizer que é um estado emocional que resulta da consciência de um perigo (real, hipotético ou imaginário) ou da preocupação com determinado facto ou possibilidade.

Muitas vezes o medo é considerado como uma falta de coragem.

Mas pode não ser assim! A coragem é uma capacidade de agir apesar do medo, controlando os receios, o temor, a intimidação. Não é fácil, sei-o, mas há que combater a azia.

Há muitos anos a azia combatia-se com Alka-seltzer (passe a publicidade), um anti-ácido em forma efervescente, que sendo efervescente, acalmava a efervescência dos sentimentos de revolta causada pelas ladroagens feitas sob uma capa de honestidade nada transparente.

Provocam-me azia o roubo e a ladroagem, mesmo disfarçada de honestidade, e não há “seltzer” que chegue para a mitigar.

Um amigo inglês uma vez disse-me, com aquele humor tipicamente britânico, comentando precisamente a ladroagem:

“nothing’s wrong with a little bit of honest thievery”

que podemos traduzir por “não há nenhum mal num pouco de uma honesta ladroagem”!

Pode ser que o humor seja um bom “alka-seltzer” para a azia provocada pela ladroagem, já que a justiça dos políticos também tem essa característica – faz-nos rir!