Embora as notícias e comentários que fui ouvindo nestes últimos dias dessem a ideia de que o que foi filmado no Mercado seria coisa nova e até rara, infelizmente não é verdade! É uma triste realidade de anos. Muita gente com responsabilidades foi sendo informada pelos guias intérpretes oficiais do que se passava em certos pontos de venda dentro do Mercado., mas nada acontecia.

Foram feitos por representantes dos guias intérpretes, relatórios, dossiers e entregues na Câmara do Funchal poucos anos antes da pandemia! Na Secretaria do Turismo em diversas reuniões, falámos bastante disto porque o problema crescia. Na Sociedade de Promoção este assunto foi exposto devido à sua gravidade numa reunião, após a chegada do novo Diretor.

Exerci a profissão de guia intérprete cerca de 40 anos até Março de 2020 com muito gosto.

Conheci o” Mercado” como sempre foi denominado pelos madeirenses, acompanhando a minha mãe.

Lembro-me de tanta gente simples e honesta que lá trabalhava sempre com um sorriso, apesar da vida dura!

Depois, como profissional ia lá quase todas as semanas, assim como muitos dos meus colegas. Era um sítio com vida, apreciado pelos visitantes estrangeiros pela sua autenticidade, pois os madeirenses faziam lá as suas compras.

Nós explicávamos os nomes dos frutos desconhecidos para eles e como eram comidos. Informávamos que eram, salvo raras exceções, vendidos ao quilo, portanto tinham que ser pesados… porque nem tudo pesava um quilo!

Algumas vezes ao regressar ao autocarro, voltava de novo ao mercado acompanhada de alguém que havia sido enganado, exigia ao vendedor a devolução do dinheiro e pedia desculpa ao turista, porque o bom nome dos madeirenses honestos tinha sido posto em causa!

Algumas agências preocupadas com os seus clientes, pediam- nos que aconselhássemos atenção aos clientes nas compras no Mercado! Alerta esse, que fazia com que ouvíssemos nas nossas costas palavras pouco bonitas vindas de quem tentava enganar os incautos!

E nós guias sempre aguardando alguma melhoria desses comportamentos!

Melhorias houve mas com o novo elevador, novas casas de banho! O terraço ficou agradável, alguns vendedores do 1º andar começaram a expor melhor as frutas e legumes. Nos últimos anos substituíram se algumas barracas e barraqueiros no rés-do-chão por pessoal muito mais colorido e vistoso, mas demasiado insistente com as provas de fruta adulterada e malcriados quando alguém não as aceita e não faz compras! Essas mudanças ajudaram a afastar os madeirenses do seu Mercado!

Tenho algumas perguntas para quem de direito: após esta propaganda danosa para a Madeira, não está na altura de se enfrentar a realidade e de pôr na ordem os que estão a prejudicar? Foi dito na TV que eram três esses locais no Mercado!

Há muito que já se sabia. Não vale a pena culpar o alemão, como já ouvi ou voltar a esconder o lixo debaixo do tapete fingindo que não se passa nada!

Onde está a fiscalização do Mercado?

O surgimento repentino de várias queixas na ASAE não será porque as aplicações usadas pelos turistas individuais não conseguem substituir ainda os humanos, quero dizer, um guia?

Estas minhas preocupações são certamente a de todos os que trabalhavam no Turismo com o coração!

Gostaria muito que houvesse FUTURO para os meus colegas e para todos os MADEIRENSES!

Amélia F. Carvalho