Análise

Metidos em apertos

A forma como alguns lidam com sondagens revela insegurança e provincianismo

A semana fica irremediavelmente marcada pela sondagem autárquica publicada neste DIÁRIO e que antevê eleições renhidas no Funchal.

Para além dos lugares comuns aos quais os políticos recorrem quando chamados a comentar estudos de opinião - que “nenhuma sondagem ganha eleições”, que “as sondagens valem o que valem”, que “esta como outras foi feita por encomenda política” e que “ainda é cedo para analisar candidaturas”! -, o que o estudo de opinião mostra é que:

. O retrato do momento, que não visa antecipar resultados eleitorais, mas apenas medir tendências e intenções de voto a dois meses das eleições, deixa bem claro que só há duas candidaturas capazes de ganhar a Câmara do Funchal.

-Está tudo em aberto, com diferenças mínimas, o que vai exigir muito trabalho no terreno, muito ‘porta à porta’ num contexto pandémico ainda adverso e muita proposta concreta, para que cada um possa decidir em função daquilo que é útil e promissor.

. Para já a coligação ‘Confiança’ - que engloba o PS, o BE, o PAN, o PDR e o MPT - recupera fôlego e vai à frente na corrida autárquica no Funchal. A vantagem da candidatura liderada pelo actual presidente de Câmara Miguel Silva Gouveia é de quatro pontos percentuais em relação à aliança PSD-CDS, a mesma que sustenta o executivo madeirense e que por sinal é encabeçada pelo vice-presidente do Governo, Pedro Calado.

. Ao manter-se no Governo até ao limite tolerável - a ideia inicial era aguentar o cargo no executivo até ao início da campanha -, Pedro Calado tem garantida uma exposição mediática acima da média e palco noticioso para toda a Região, mas resta saber se tem tempo para os contactos directos com quem o vai eleger. Ou seja, ou sai quanto antes do executivo para dedicar-se por inteiro à campanha que lhe dá votos ou acumula os papéis e vai passar o tempo desfocado pois, por muito que seja capaz, não será fácil conseguir desempenhar duas missões distintas com a lucidez e serenidade recomendadas.

. Depois de apresentadas as equipas, os efeitos dos trunfos de Miguel Silva Gouveia valem mais do que aqueles que Pedro Calado lançou com alguma antecedência. A ‘Confiança’ obteve este mês o melhor dos três resultados em sondagens do DIÁRIO. Pedro Calado conseguiu o máximo em Março, quando ainda nem tinha equipa.

. A dispersão de votos à direita pode ser prejudicial à candidatura de Pedro Calado. Chega, que surge em terceiro, Iniciativa Liberal e a Coligação que junta PPM e Aliança - tomam conta de 7% do eleitorado.

. Miguel Silva Gouveia complicou o trânsito, o problema líder na cidade, e está a apanhar por tabela. Já devia ter aprendido com outras ideias peregrinas de curta duração, mas de grande desgaste político. Meter-se em apertos, mesmo que haja um artigo de opinião no DIÁRIO de Bruno Pereira, quando era vice- presidente da Câmara, a defender um novo conceito para a Estrada Monumental, em nada contribui para uma campanha tranquila.

. Miguel Gouveia e Pedro Calado devem saber com quem devem estar em cada momento. Não vale a pena encher espaços de propaganda com excursões encomendadas, nem recorrer a factores de distração e a ruídos de fundo, produzidos por figuras gastas e conflituosas. Os agentes tóxicos são dispensáveis.

. A sondagem foi encomendada e paga pelo DIÁRIO. Se o deputado António Lopes da Fonseca desconfia que foi obra dos socialistas, tem remédio. Consulte quanto antes um especialista. As alucinações podem ser sintoma de algo bem mais profundo e de outro foro. Se o mesmo parlamentar centrista acha que nos estudos da Eurosondagem publicados pelo DIÁRIO o PS aparece sempre à frente dos outros partidos, então padece de tremenda falta de memória. E isso até pode ter cura, desde que seja tratado a tempo. Se o maior camaleão da política regional dos últimos tempos acha que pode continuar a mentir de forma descarada e sem reparo, deve voltar ao negócio do ‘frango fumado’.

. O estudo resulta de 1.525 respostas validadas e não recorreu às bases de dados dos partidos políticos regionais, para desgosto da ‘ala dos 300’.