Europa repatria produção de baterias com expansão de vendas de viaturas eléctricas
Perante a expansão das vendas de viaturas elétricas, a Europa começou a repatriar a produção das suas baterias, mas ainda está longe de conseguir a autonomia em relação a produtores asiáticos, sobretudo a China.
Em 14 de julho, ao propor interditar as vendas das viaturas a gasolina e gasóleo até 2035, a Comissão Europeia fixou a agenda e, depois de anos de fraca voltagem, a Europa conta agora com 38 projetos de fábricas de baterias, com um total de mil gigawatt horas (GWh) anuais previstos, num investimento de 40 mil milhões de euros, segundo a organização não governamental Transportes & Ambiente.
A sueca Northvolt prevê uma capacidade de produção anual de 150 GWh na Europa até 2030, com uma fábrica em construção na Suécia e duas outras em estudo.
Os construtores de viaturas estão a posicionar-se.
A Daimler, que produz Smart e Mercedes, anunciou hoje que quer abrir oito fábricas de células de baterias no mundo, para cobrir as suas necessidades.
A VW investiu na Northvolt para montar uma fábrica na Suécia e está a trabalhar na abertura de outras cinco, das quais uma em Espanha e outra na Alemanha, com o grupo chinês Gotion High-Tech.
A Stellantis anunciou três unidades em França, Alemanha e Itália. O grupo com 14 marcas, entre as quais Peugeot, Fiat e Jeep, tenciona abrir, a seguir, duas outras, na Europa e América do Norte, e alcançar os 260 GWh em 2030.
A Tesla prevê abrir, até ao final deste ano, a sua primeira instalação industrial europeia, perto de Berlim, que quer tornar na "maior fábrica de células do mundo", com 250 GWh em 2030.
Os seus fornecedores asiáticos não estão a descansar: a chinesa Envision AESC associou-se à Nissan e à Renault para construir fabricas de baterias no Reino Unido e em França.
Por seu lado, as sul-coreanas LG Chem e SKI abriram fábricas na Polónia e Hungria, ao passo que a chinesa CATL está a construir uma na Alemanha.
As baterias das viaturas elétricas, com pesos entre 200 e 600 quilos, que representam uma parte importante do valor dos veículos, são atualmente produzidas na sua maioria na Ásia, sobretudo entre a China, a Coreia do Sul e o Japão.
"Enquanto há um aumento monstruoso das encomendas, há uma questão principal para todos os construtores: quebrarem o oligopólio dos fabricantes de baterias", analisou Eric Kirstetter, da consultora Roland Berger. "Mas também vão precisar de aceder aos materiais para as células (ânodo, cátodo), cujo aprovisionamento vai ser determinante para o preço e o fornecimento da bateria", acrescentou.
"As parcerias são necessárias", realçou Alexander Marian, da consultora AlixPartners, insistindo: "Ninguém tem os meios financeiros necessários para esta transição".
Todos estes projetos são apoiados pelos poderes públicos europeus, que querem garantir um lugar para a Europa na indústria automóvel do futuro.
Para se demarcar dos seus concorrentes asiáticos e norte-americanos, a Europa conta desenvolver fábricas menos poluentes, e uma nova norma, em discussão, pode impor um fornecimento responsável em matérias-primas e uma reciclagem das baterias.
"No estado atual, a instalação de capacidades de produção na Europa está mais ou menos à frente da procura. A Europa vai recuperar parte do seu atraso para com a China", previu Alexandre Marian. "Há muitos atores com tecnologias diferentes. O campo das possibilidades está aberto", sintetizou.
Para desenvolver a próxima geração de baterias e ficar menos dependente da tecnologia assente no lítio, dominada pelos asiáticos, a Comissão Europeia lançou em janeiro o seu segundo "projeto de interesse comum", relativo a um conjunto de programas de investigação financiados em 2,9 mil milhões de euros.
Estas fábricas podem criar 800 mil empregos no continente, para os quais é preciso formar depressa os necessários trabalhadores, realçou a Comissão.
Quando estiverem a funcionar vão precisar de serem aprovisionadas em matérias-primas: as necessidades em lítio devem ser multiplicadas por 18 até 2030, segundo a Comissão Europeia. A indústria também vai precisar de cinco vezes mais cobalto.
Em relação ao lítio, a Europa pode contar com grandes jazidas no seu território, na República Checa e Alemanha, entre outros. Para Oliver Montique, ela deve também "desenvolver acordos de fornecimento com países com recursos abundantes, com uma diplomacia favorável e infraestruturas sólidas, como Austrália, Canadá, Brasil ou o Chile", para "evitar ser ameaçada ao nível comercial ou político".