Capital japonesa parece alheada do maior evento desportivo do mundo
A um dia do início dos Jogos Olímpicos, Tóquio parece viver alheado do maior evento desportivo do mundo, algo só possível numa sociedade altamente respeitadora, face a um vírus que levou ao inédito adiamento da competição.
Na capital nipónica vigora o quarto estado de emergência face à pandemia de covid-19, que afastou os espetadores nacionais dos recintos de competição, depois de ter sido autorizada a presença de 10% da capacidade ou metade da lotação, desde que não excedesse 10 mil lugares.
As 43 infraestruturas alocadas aos Jogos Olímpicos estão devidamente 'protegidas' dos japoneses, impedidos de assistir ao evento presencialmente -- depois de já ter sido negada essa possibilidade aos estrangeiros -, pelo que o habitual 'circo' olímpico, que apaixona milhões, funciona absolutamente fechado, como nunca aconteceu.
Os XXXII Jogos vão ter bancadas despidas de entusiasmo, ficando entregues somente a atletas, dirigentes, árbitros, jornalistas, organizadores e milhares de voluntários, transformando o evento global e agregador de culturas e povos num produto, apenas e só, mediatizado.
Pela primeira vez desde a primeira edição, em Atenas1896, não haverá o que os Jogos têm de mais especial, o intercâmbio e partilha entre culturas, em espírito de tolerância, compreensão e harmonia, enquanto são desafiadas as melhores aptidões do Homem.
Tóquio, muito comedido nas referências visuais aos Jogos Olímpicos, atravessa o seu quarto estado de emergência, que se manterá até 22 de agosto, pelo que abrange todo o evento, que principia na sexta-feira e termina em 08 de agosto.
Na quarta-feira, as infeções com covid-19 em Tóquio atingiram o máximo dos últimos seis meses, nomeadamente, com 1.832 novos casos.
Isto apesar de um movimento anormalmente inferior ao habitual em toda a vasta área metropolitana, sendo que as zonas competitivas andam desertas, sobretudo as 14 infraestruturas na zona da Baía, a mais moderna e renovada de Tóquio, com poucos complexos habitacionais.
Embora com contornos diferentes, a situação repete-se nos seis empreendimentos na zona Herança, nos 10 da área metropolitana e nos 11 fora da capital, além da Aldeia Olímpica e do Centro de Transmissão Internacional/Centro de Imprensa (MPC), com segurança reforçada e com vida limitada aos diversos agentes ligados ao evento.
O Estádio Olímpico tem sido especialmente protegido, a um dia da cerimónia de abertura, tradicionalmente um dos pontos altos dos Jogos Olímpicos, que desta vez vai contar com um número de altos representantes, cerca de 15, entre chefes de estado e de governo e líderes de organismos internacionais, bem menos do que os 40 no Rio2016.
A vasta organização de Tóquio2020, boa parte com sérias dificuldades a 'arranhar' a língua inglesa, não se livrou de mais um escândalo e hoje mesmo um dos diretores artísticos demitiu-se, o comediante Kentaro Kobayashi, por piadas antissemitas num espetáculo realizado há 23 anos, em 1998.
Com ou sem o mais puro espírito olímpico, serão cerca de 11.000 os desportistas a lutarem pela honra de ser um dos 339 campeões olímpicos, em provas distribuídas por 33 modalidades.
De Portugal chegam 92 atletas, em representação de 17 desportos, com o objetivo de atingirem, pelo menos, duas medalhas, 12 diplomas, com lugares até ao oitavo, bem como 26 resultados até ao 16.º.
Os Jogos Olímpicos Tóquio2020 vão ser disputados entre sexta-feira e 08 de agosto, 364 dias depois da data prevista, devido à pandemia de covid-19.