Crónicas

Pessoas (im)perfeitas

Que a perfeição não existe já todos sabemos. O que não colide nunca com a vontade de sermos sempre o melhor que conseguirmos.

Desconfio sempre de pessoas que aparentam perfeição. O que é muito diferente das que não têm pejo em destilar a sua felicidade. Pessoas felizes são as que melhor conhecem as suas imperfeições mas que convivem bem com elas. Não se preocupam muito com o que os outros pensam. Sai-lhes de forma natural. Andam por aí a espalhar magia quase sem querer e pronto. Pessoas aparentemente perfeitas escondem muitas vezes ( até de si próprias ) aquilo que não querem ver ou admitir. Têm uma necessidade absolutamente doentia de sentir a aprovação dos outros e muitas vezes aproveitam-se das fragilidades para desviar atenções. Eu cá gosto muito mais das que erram e pedem desculpa, das que aceitam os outros como eles são e dos que não perdem tempo em comparações fúteis por estarem focados e mais ocupados em fazer aquilo que sentem.

Que a perfeição não existe já todos sabemos. O que não colide nunca com a vontade de sermos sempre o melhor que conseguirmos. Agora faz-me um bocado confusão ver gente que passa o tempo todo a apontar o dedo e a encontrar formas de devassar a vida dos outros. Que têm a mania que não partem um prato. Que nunca fizeram nada de errado e não foram ainda canonizados pelo Santo Padre por manifesto desconhecimento. Os falsos pudicos e as virgens ofendidas que apanhamos por aí sempre prontinhos para fazer um olhar recriminador. Como dizia o José Pina esta semana “tenho medo é dos que não bebem, não fumam, só comem coisas saudáveis e querem salvar o mundo”. Não porque o fazem mas sim porque vêm sempre com esse hábito pouco saudável de tentar impôr as suas vontades aos outros. Como se não pudesse existir mais nada. O que não deixa de ser estranho já que muitos são os mesmos que se passeiam no dia 25 de Abril a gritar “liberdade”. Mas o que realmente defendem é uma ditadura de opinião, de gostos e de práticas. No fundo, uma liberdade enviesada segundo os seus princípios convicções.

Eu respeito as beatas deste país e os voyeurs que vivem e se alimentam da vida dos outros. E respeito também os que pensam diferente de mim. Agora não me obriguem é a ser como eles. Tenho pena que tenhamos chegado ao ponto em que alguém no recato da sua privacidade e depois de um jantar de amigos bem regado tenha que pedir desculpa por ir a ziguezaguear a pé a caminho de casa. E lamento ainda mais perceber que há quem se lembre de o filmar retirando gozo da situação e o promova com o único objectivo de achincalhar e de prejudicar. Mas desta vez saiu-lhes o tiro pela culatra. É que estamos tão fartos de ser enganados e roubados, de nos mentirem descaradamente e de perante mil uma tropelias não terem a decência de assumir as consequências dos seus atos que quando olhamos para alguém que vai na companhia da sua piela sem fazer mal a uma mosca só pensamos que podíamos bem ser nós.

As pessoas têm que parar de pensar que ser perfeito é fixe. Não é. A perfeição é aliás profundamente infeliz. A riqueza da nossa vida também se faz das imperfeições, dos passos mal dados, das bebedeiras, das noitadas e desses momentos de maior loucura. Das experiências, umas melhores outras piores. Nós crescemos com isso, fazem parte da nossa história e da nossa felicidade. Das nossas recordações. Provavelmente orgulhamo-nos mais de umas do que de outras mas isso também é viver ou não é? Por isso parem de recriminar nos outros aquilo que vocês lá no fundo também sabem ( de uma forma ou de outra ) que são. Por muito que vos custe aceitar. Não podemos exigir aos outros o que não exigimos a nós próprios. Preocupem-se é em colecionar momentos perfeitos, mesmo dentro da nossa imperfeição. Isso sim é viver.