Tanto no mar como em terra, a vida “não está nada fácil”
Hoje, a 'Volta à Ilha' do DIÁRIO é dedicada à freguesia de Câmara de Lobos.
No âmbito das eleições autárquicas, que acontecem a 26 de Setembro, o nosso matutino vai passar por todas as freguesias da Região Autónoma da Madeira. Vamos ouvir dos seus 'fregueses' quais as preocupações, os anseios e as reivindicações para os futuros eleitos. Nem todos falam 'sem medo', mas todos têm uma palavra a dizer sobre as governações das suas localidades.
Na zona da baía junto à Capela de Nª Sª da Conceição, na manhã ensolarada, um grupo de pescadores passa o tempo à conversa. Marco Silva, pescador profissional, é o mais novo do grupo. É o único que prontamente responde à nossa reportagem e não se intimida. Nem com as perguntas, nem com a objectiva da máquina fotográfica. “Falta resolver tudo” responde de pronto, quando questionado sobre a situação actual da freguesia.
“Está cheio de problemas e ninguém resolve”, acentua. Que problemas são esses? “É o calhau para arranjar, que diziam que iam arranjar, mas onde é que está arranjado? Não tem nada. Eles (autarcas) só pensam no Pestana e em hotéis”, denuncia.
Bastaram as primeiras palavras para os amigos com que conversava, rapidamente ‘dar à sola’ e desaparecem da zona. O último a sair ainda reclama de forma fugitiva: “Não tem uma casa de banho pública. Só lá em cima, ao pé da igreja e está sempre fechada”, contestou.
Com 43 anos de idade, Marco é um dos muitos câmara-lobenses que se dedica à pesca do peixe-espada-preto.
Tanto no mar como em terra, diz que a vida “não está nada fácil”. Entretanto aponta para a zona do varadouro para dar conta que quem governa Câmara de Lobos promete muito, mas faz pouco. “Prometeram que iam fazer lojas (arrecadações) e só fizeram três casinhas acolá, que não dá para quase ninguém. Tem lá três pessoas e quase não cabe o material deles”, garante.
“Diziam que iam melhor esta parte aqui para melhorar o varar das embarcações, mas nada feito. Prometeram tanta coisa e não fazem nada”, conclui.
Determinado em apontar ‘problemas por resolver’, vira-se na direcção do cais e novo reparo: “Não vejo nada de jeito acolá. Tinha duas gruas e agora não tem nada. Até o Porto da Cruz tem (grua) e aqui, que é zona piscatória, onde é que está? Fazia falta. Prometem tanta coisa e não fazem nada”, reafirma.
Entretanto reflecte e chega à conclusão que já viu obra feita pela actual governação autárquica.
“Vou pouco ao Facebook, mas quando vou, a cara que vejo primeiro é a dos presidentes da Câmara e da Junta de Freguesia, porquê? Qualquer vereda, uma foto. Lá veredas eles fazem”
Apesar de grande parte da vida ser passada em ‘mar alto’, este pescador procura se manter ‘ligado’ à terra. Prova disso o recente ‘comício’ de apresentação da lista encabeçada por Pedro Coelho, que garante ter acompanhado em ‘alto mar’ pelo telefone.
Nisto vira-se para a zona do Ilhéu para indicar onde vive a família e ‘dá de caras’ com Pedro Coelho no quintal de uma das moradias. Apesar de estar distante, garante que aquela pessoa de calção de banho e com o telemóvel ao ouvido é o presidente da Câmara. E para que não duvidássemos, grita “Coelho” enquanto gesticula de braço no ar. Quem estava nessa varanda não reage, mas a foto captada naquele momento comprova a veracidade do que afirmara.
“Ele está resolvendo problemas, de certeza”, diz, antes de assegurar que Pedro Coelho “tem duas casas no Ilhéu”. Mas logo esclarece que aquela habitação virada para a baía é “casa de férias do presidente”. Explica depois que aquela “casa rústica” fica logo acima da casa onde vive a mãe de Marco Silva. Dito por outras palavras, “a minha mãe vive debaixo daquele senhor”.