Primeiro-ministro britânico insiste que UE tem de ser "pragmática" na Irlanda do Norte
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, reiterou hoje, numa conversa por telefone com o homólogo irlandês, Micheál Martin, o apelo à União Europeia (UE) para mostrar "pragmatismo" para resolver os problemas resultantes do 'Brexit' na Irlanda do Norte.
As novas regras que entraram em vigor em 01 de janeiro, previstas no Protocolo da Irlanda do Norte do Acordo de Saída da UE, estão a afetar a circulação de mercadorias entre a ilha da Grã-Bretanha (onde estão a Inglaterra, Escócia e País de Gales) e a Irlanda do Norte, o que criou tensões entre Londres e Bruxelas.
Segundo um porta-voz, Johnson "a forma como o Protocolo está a operar atualmente está a causar perturbações significativas à população da Irlanda do Norte" e considera que "a UE deve mostrar pragmatismo e soluções necessárias".
A mesma fonte referiu que o Governo vai apresentar na quarta-feira no Parlamento a sua abordagem sobre o Protocolo da Irlanda do Norte, que foi o mecanismo encontrado para evitar uma fronteira física com a vizinha Irlanda, membro da UE, de forma a cumprir os acordos de paz de 1998 que colocaram fim a um conflito sectário violento na região.
Em março, o Reino Unido adiou unilateralmente para outubro alguns dos controlos aduaneiros que tinha concordado efetuar, razão pela qual a Comissão Europeia iniciou um processo de infração que pode acabar perante o Tribunal de Justiça da UE.
No final de junho, ambos decidiram estender por três meses, até 30 de setembro, o período de carência em que os controles aos produtos de carne refrigerada porque as regras do mercado único europeu não permitem a entrada deste tipo de produtos.
Porém, o Governo britânico considera que esta é apenas uma solução temporária e quer alterações permanentes ao Protocolo, tendo ameaçado suspender o "Acordo do 'Brexit'" se tal não for possível.
Ainda na mesma conversa telefónica foi discutida a proposta do Governo britânico de bloquear julgamentos de crimes cometidos que durante o conflito armado na Irlanda do Norte antes dos acordos de paz de 1998, que se aplicará tanto às Forças Armadas britânicas como aos paramilitares unionistas (protestantes) e republicanos (católicos).
Dublin, bem como os partidos políticos da Irlanda do Norte, já se manifestaram contra a iniciativa, mas Johnson insistiu que "a prioridade atual na justiça criminal não está a funcionar para ninguém" e apelou a um "maior envolvimento" das outras partes na proposta de Londres.
O encontro entre os dois dirigentes estava previsto ser presencial em Londres, mas a conversa acabou por ser feito remotamente porque Boris Johnson está em isolamento profilático por ter estado em contacto com o ministro da Saúde, Sajid Javid, que testou positivo à covid-19 na sexta-feira.