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Comboio do PAM com ajuda para a região de Tigray alvo de ataque

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Um comboio do Programa Alimentar Mundial (PAM), da ONU, com ajuda humanitária para a região etíope de Tigray, contra a qual o Governo da Etiópia está em guerra, foi atacado no domingo, anunciou hoje a organização.

"Um comboio do PAM com nove camiões e um veículo ligeiro foi atacado na manhã de 18 de Julho, a cerca de 115 quilómetros de Semera (a capital da região vizinha de Afar), quando tentava transportar carga humanitária essencial para a região de Tigray", disse a ONU, num comunicado citado pela agência de notícias espanhola EFE.

A guerra no Tigray começou em 04 de Novembro, quando o Governo central lançou uma ofensiva contra a Frente Popular de Libertação do Tigray (TPLF), que tinha governado a região até então, após uma escalada das tensões políticas durante os meses anteriores e como retaliação a um ataque a uma base militar federal.

Após cerca de oito meses de conflito, o Governo de Adis Abeba declarou um "cessar-fogo humanitário unilateral" em 28 de Junho, mas, embora o exército se tenha retirado de várias cidades tomadas pela LPTF, forças da vizinha região de Amhara, que anexadas de facto ao Tigray ocidental, permanecem no local e o acesso está bloqueado em muitos locais, o que agrava a crise humanitária.

Embora tenha havido algumas melhorias desde Junho, de acordo com as últimas informações do Gabinete de Coordenação dos Assuntos Humanitários (OCHA) das Nações Unidas, a circulação dentro e fora da região norte continua a ser "extremamente difícil", tornando o reabastecimento de bens e recursos humanos muito difícil.

Segundo o OCHA, cerca de 75% das pessoas que necessitam de assistência humanitária - ou cerca de 4 milhões, em cerca de 5,2 milhões - encontram-se agora em áreas acessíveis, em comparação com 30% em Maio.

No entanto, a entrada só é agora possível através da rota oriental, através de Semera - precisamente o local do ataque ao comboio - onde existe um forte controlo por parte das forças federais e regionais de Afar.

Por outro lado, embora a ONU tenha recebido permissão de Adis Abeba, no início de Julho, para retomar os voos para Tigray, os pormenores logísticos para a reactivação das operações ainda não foram finalizados.

Por enquanto, a autoria do ataque ao comboio do PAM ainda é desconhecida, mas a agência das Nações Unidas suspendeu todos os movimentos a partir de Semera "até que a segurança da zona seja garantida".

"É essencial que o PAM e os seus parceiros humanitários possam levar a cabo as suas actividades em segurança (...) para que possamos chegar a milhões de pessoas que necessitam de assistência, para salvar vidas", disse hoje a agência das Nações Unidas.

Segundo o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, as tropas federais retiraram-se em 28 de Junho, porque a capital do Tigray já não tinha "importância militar", mas os analistas e os próprios rebeldes dizem que a razão foi a derrota das forças etíopes pelas forças da região, agrupadas nas Forças de Defesa do Tigray (FTD).

Desde então, o conflito agravou-se com uma escalada de combates contra a vizinha Amhara, cujas autoridades anunciaram, na semana passada que lançariam "um ataque em grande escala" contra as forças tigray, que tentavam recuperar o controlo da parte ocidental e meridional da região.

Abiy Ahmed, por seu lado, assegurou que o Governo está "preparado para tomar as medidas necessárias para o bem-estar dos etíopes e da nação".

Desde que a guerra começou, milhares de pessoas foram mortas, quase dois milhões foram deslocadas internamente e pelo menos 75.000 etíopes fugiram para o vizinho Sudão, de acordo com números oficiais.

A ONU também advertiu, no início de Julho, que já há cerca de 400.000 pessoas com fome no Tigray e outras 1,8 milhões à beira da fome.