“A primeira grande tentativa de dar voz a um arquipélago que se sentia afastado dos centros de poder”
Paulo Rodrigues, investigador da Universidade da Madeira, fala sobre o primeiro jornal madeirense
‘Patriota Funchalense: 200 anos da Imprensa na Madeira’ dá o mote para a mesa-redonda que decorre esta tarde no auditório do Arquivo e Biblioteca da Madeira (ABM).
Nesta conversa moderada pelo director editorial do Diário de Notícias da Madeira, Ricardo Oliveira, que pode ser acompanhada através da TSF-Madeira, vamos ficar a conhecer as opiniões do investigador da Universidade da Madeira, Paulo Rodrigues, do director do Museu de Imprensa da Madeira, Lourenço Freitas e das jornalistas Ana Luísa Correia (Diário de Notícias da Madeira), Iolanda Chaves (Jornal da Madeira), sobre a imprensa regional.
Paulo Rodrigues, investigador da Universidade da Madeira, explicou que o Patriota Funchalense foi “a primeira grande tentativa de dar voz a um arquipélago que se sentia afastado dos centros de poder”. “O Patriota procurava ser o representante daquelas que se consideravam as reivindicações madeirenses”, abordando questões prementes, como os transportes, as finanças, a insularidade… Aliás, questões que ainda hoje marcam a relação política entre a região autónoma e o território continental. À data, tendo em conta o conceito existente de Autonomia, o Patriota foi, sem dúvida, “o primeiro grande representante de Madeira” na imprensa escrita madeirense.
O director do Museu de Imprensa da Madeira, Lourenço Freitas, considerou mesmo que o Patriota foi a “primeira voz escrita dos madeirenses”. Na ocasião, aproveitou para destacar todos os benefícios trazidos pela imprensa escrita e enquanto processo gráfico para as sociedades. “Folhas noticiosas, que muitas vezes só divulgavam um acontecimento, mas que rapidamente evoluíram para jornais com mais páginas e mais assuntos”. Depois o Patriota, a Madeira já teve quase 400 jornais, o que é revelador da importância que a população atribui às notícias.
No entender de Ana Luísa Correia, jornalista do DN-Madeira, o Patriota Funchalense veio dar expressão ao pensamento dos madeirenses, prova disso que no 1.º número chamou a si vários ideais, como a instrução, o cessar dos abusos sociais. Uma publicação periódica que veio, sem dúvida, revolucionar a ligação da população à informação e à liberdade de imprensa. Uma liberdade que todos os dias se constrói.
Iolanda Chaves, jornalista do Jornal da Madeira, considerou que “continuam vivos os princípios do Patriota Funchalense” e que nos nossos dias, ainda que alguns possam ter ficado adormecidos, “o jornalismo de causas volta a estar muito patente”. “Somos jornais que abraçamos causas”, disse ainda, referindo-se ao órgão que representa e ao DN-Madeira.
Sobre o Patriota Funchalense
A 2 de Julho de 1821 foi impresso o primeiro jornal madeirense, o qual foi, também, o primeiro jornal insular português. O Patriota Funchalense foi fundado pelo prestigiado médico madeirense Nicolau Caetano Bettencourt Pita, redator e defensor dos princípios liberais que estiveram na origem da "Revolução do Porto" de 1820. A "imprensa" ou oficina tipográfica, comprada em Lisboa, foi instalada no mesmo espaço onde funcionavam a administração e a redação, à Rua dos Ferreiros, nº 7, no Funchal.
Com uma periodicidade bissemanal, cada número de "O Patriota Funchalense" era constituído por quatro páginas (alguns números com suplementos de duas ou quatro páginas). A primeira página de todos os números apresentava as armas reais ilustradas por três versos de Almeida Garrett. Ao nível do conteúdo, esta publicação periódica contemplava informação generalizada: notícias do país e do estrangeiro, economia nacional, política, movimento portuário, entre outros assuntos triviais.
O Patriota saía à quarta e ao sábado e publicou 214 números, até 16 de Agosto de 1823. Teve vida curta. Contudo, foi o precursor de uma longa história da imprensa na Madeira, a qual conta já com quase 400 títulos publicados.
O Patriota Funchalense está digitalizado e disponível à consulta, na plataforma de pesquisa de biblioteca da DRABM.