Tenho um sonho…
Apesar de não ter nascido em Portugal, há 40 anos, sou, com orgulho, o Vieira da Calheta!
Por razões históricas, verifica-se alguma animosidade em relação aos nossos vizinhos fronteiriços, a quem, carinhosamente, chamamos “nuestros hermanos”. Entendemos que eles são arrogantes e sobranceiros em relação ao nosso país que já foi uma das suas províncias. No entanto, julgo que esta atitude tem a ver com a elevada auto-estima que, muitas vezes, aproveitamos para os caricaturar com as nossas anedotas a seu respeito.
- Mira, hijo mio, que gustarias de ser quando seas mayor?
- Gustaria de ser como tu, papa!
- Porqué?
- Para tener un hijo como yo!
Isto é que é auto-estima em alta!
Esta introdução vem a propósito de notícias amplamente difundidas no que toca à nossa (portuguesa, regional e local) situação perante a pandemia. Portugal merece destaque nas aberturas de telejornais quando os números nos colocam nas piores situações. No entanto, a maior relevância reconhecida pelos resultados positivos animadores foi feita fora de portas. As parcas notícias que, há algum tempo atrás, nos colocaram nos melhores do mundo, nesta matéria, foram de terceira ou quarta categoria. E tivemos situações bem evidentes… Enfim as boas notícias a nosso respeito não merecem destaque noticioso doméstico. Muitas vezes, o nível da informação baixou para o de alguns canais televisivos onde só o crime, o sangue, a desgraça e a desventura são noticiáveis…
Não tenho saudades do passado em que a ditadura ensinava que a nossa História era a mais edificante, a nossa pátria era a melhor, a nossa bandeira a mais bonita e o nosso hino nacional a cereja que encimava o bolo, com os governantes que Deus nos tinha concedido para “bem da Nação”.
No entanto, não posso deixar de ficar desolado pelo facto de muitos dos portugueses apenas conhecerem a parte final do nosso hino: “contra os canhões marchar, marchar!”,
Já nem falo do hino regional, pelo menos a primeira estrofe…
É que o nosso orgulho de ser madeirenses e portugueses não pode ficar reduzido ao cartão de cidadão. Temos um passado de que nos podemos orgulhar, com altos e baixos é certo, como todos os outros países e regiões, por esse mundo fora. Temos, todos nós, individualmente, de assumir o nosso madeirismo e portuguesismo. É uma forma de combatermos a imagem do português de mala de cartão, de mão estendida e pé descalço.
No entanto, há um trabalho no sentido de promoção da imagem da nossa terra, da nossa história e do nosso povo que integrar os programas dos governantes e candidatos aos cargos governativos. E deve haver uma preocupação pública de promoção da dignidade nacional e regional, no plano interno e externo, combatendo e desencorajando os exageros e os fundamentalismos. Não pertencemos a um povo superior. Ombreamos com qualquer outro povo, com as nossas idiossincrasias. Orgulhosos, mas sem exageros nem vaidades tolas.
Apesar de não ter nascido em Portugal, há 40 anos, sou, com orgulho, o Vieira da Calheta!