Testemunha vincula grupos 'bolsonaristas' a escândalos de vacinas no Brasil
Grupos de extrema-direita que apoiam o Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, participaram em negociações duvidosas para fornecer ao Governo vacinas contra a codi-19, segundo revelou hoje uma testemunha revelada perante uma comissão do Senado.
A informação é de Cristiano Carvalho, representante de vendas no país da norte-americana Davati, através da qual ofereceu ao Brasil um lote de 400 milhões de doses da vacina Astrazeneca, apesar de a farmacêutica negar essa possibilidade, uma vez que negoceia diretamente com os Governos, sem usar intermediários.
Nessas negociações, houve ainda alegados pedidos de suborno feitos por funcionários do Ministério da Saúde para que os contratos fossem aceites, segundo evidências recolhidas Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da pandemia, que decorre no Senado brasileiro e investigada alegadas falhas do Governo na gestão da covid-19, que já fez 537.394 mortos e 19,2 milhões de casos.
Os pedidos de comissões, que por si só já constituem crime de corrupção passiva ainda que a negociação não tenha prosperado, foram denunciados perante a CPI pelo polícia militar Luiz Dominguetti, também representante da empresa Davat, que junto com militares e pastores evangélicos fazia parte do grupo que oferecia vacinas ao Governo de Bolsonaro.
Carvalho confirmou que o Instituto Força Brasil, formado por grupos bolsonaristas de extrema-direita e que está sendo investigado no Supremo Tribunal Federal por divulgar informações falsas nas redes sociais, ajudou a mediar contactos no Ministério da Saúde.
O instituto é presidido pelo coronel Hélcio Bruno Almeida, com quem, a par do coronel Elcio Fraco, ex-secretário executivo do Ministério da Saúde, Cristiano Carvalho revelou ter tido contacto para as negociações das vacinas.
Cristiano Carvalho detalhou a participação de pelo menos oito autoridades do Ministério da Saúde que teriam atuado para agilizar a negociação de vacinas com a Davati. Da lista, pelo menos seis são militares
O representante de Davati narrou que os representantes do grupo mantiveram diversos encontros com altos funcionários do Ministério da Saúde, que no início deste ano, quando o assunto foi discutido, era chefiado pelo general Eduardo Pazuello, homem da maior confiança de Bolsonaro.
Segundo Carvalho, as negociações estagnaram em maio passado e não tiveram seguimento, pois Pazuello foi demitido e com ele saiu o vice-ministro Elcio Franco, embora ele não soubesse precisar os motivos de as negociações terem sido terminadas.
Até ao momento, a CPI, instalada em 27 de abril, recolheu indícios de que o Governo brasileiro incorreu em "atrasos" e "omissões" na compra de vacinas, que foi aconselhado por um grupo de médicos "negacionistas" e que distribuiu medicamentos sem eficácia contra a covid-19.
Da mesma forma, descobriu suspeitas de corrupção nas negociações para a compra de uma vacina indiana Covaxin, o que levou o Ministério Público a investigar as ações do próprio Bolsonaro neste assunto.
Na rede social Twitter, Bolsonaro, que se encontra hospitalizado em São Paulo devido a uma obstrução intestinal, criticou os trabalhos da CPI, que classificou de "circo", indicando que a maioria dos senadores está "frustrada" por "não encontrar um só indício de corrupção" no seu Governo.
Bolsonaro ofendeu ainda os senadores que integram o núcleo central da Comissão, chamando-os de "otários".
A pandemia de covid-19 provocou pelo menos 4.061.908 mortos em todo o mundo, entre mais de 188,3 milhões de casos de infeção pelo novo coronavírus, segundo o balanço mais recente da agência France-Presse.