"O último ano e meio foi mais passado a responder a processos jurídicos do que a reconstruir o que foi destruído", refere o DIrector Geral do União
Termina amanhã o prazo limite para a inscrição das equipas no campeonato de Portugal. O União está pré- inscrito mas só com a validação dos documentos necessários à participação na competição se saberá do veredicto final. Ocasião para o DIÁRIO conversar com o Director Geral do União, Filipe Rebelo, que ocupa o cargo desde 5 de Maio passado.
Como encontrou o União?
É uma pergunta muito difícil. Prefiro caracterizar os aspectos positivos. As condições estão lá todas. Somos uma das marcas com mais potencial e mais valiosas da Madeira, mas desde que o União desceu da primeira Liga que as antigas administrações entraram numa bola de neve, precisamos inverter esse caminho e precisamos que o Clube seja um clube honrado e formador de homens. É para isso que estamos a trabalhar, sem promessas, mas com muita vontade de colocar o Clube no patamar que merece.
E há solução para um clube divido?
Claro que há! Porque senão houvesse não seria para nós, nem dávamos a cara no dia a dia. Apesar de tudo esta direcção tem feito tudo o que está ao seu alcance, mas sabemos que o último ano e meio foi mais passado a responder a processos jurídicos do que a reconstruir o que foi destruído.
O último ano e meio foi mais passado a responder a processos jurídicos do que a reconstruir o que foi destruído. Filipe Rebelo
Foram anos a acumular dividas, anos que muitos funcionários e fornecedores do União não receberam e esse historial negativo tem de ser invertido. É só ler os relatórios oficiais para se perceber que desde que o União desceu da 1.ª liga, entrou em queda livre, e nunca fez os devidos ajustamentos à sua massa salarial e às suas contas.
Com a entrada desta direcçãoo e administração tivemos que acabar com tudo o que não podíamos pagar. Só oferecemos o que podemos. Agora há que recuperar o tempo perdido. Recuperar a imagem do velhinho União. Somos muito grandes, e temos de demonstrar isso.
Qual o seu foco neste momento?
O nosso foco está em recuperar socialmente e desportivamente o Clube de Futebol União. E tenho a certeza que estamos no caminho certo e que vamos conseguir fazê-lo.
Qual o objectivo do Clube de Futebol União para este ano?
O objectivo do clube é ultrapassar os processos jurídicos que estão a decorrer, inscrever todos os escalões de formação e uma equipa nos seniores regionais, introduzindo um novo modelo de gestão desportiva e social que visa aproximar os pais e atletas ao clube, recuperar a mística do União da Bola, fazendo tudo para recuperar os 5.050 sócios que se afastaram do dia dia do clube.
União terá modalidades amadoras na próxima época?
Iremos tentar ter as modalidades amadoras que forem auto-sustentáveis. Já anunciamos o jiu-jitsu, infelizmente o covid veio limitar em algumas nomeadamente a natação que já ia em bom planeamento, porque o pagamento versus pessoas a utilizar por pistas não compensa financeiramente o pagamento de um profissional, mas vamos ter algumas modalidades históricas do União. Não queremos prometer aquilo que não podemos cumprir, mas esperamos que sejam levantadas essas restrições para avançar. Mas teremos modalidades Individuais e colectivas sem sombra dúvida. Iremos voltar a ser uma referência no desporto madeirense.
Mas com o União insolvente, como fará isso?
O processo decorre em tribunal. Vamos aguardar com tranquilidade. Há uma equipa de trabalho focada apenas em responder aos processos jurídicos, logicamente que encabeçada pelo Presidente, e tenho fé e esperança que tudo vai correr bem. Penso que ninguém quererá encerrar uma instituição de utilidade pública com 108 anos de muita história e memórias para todos/as aqueles/as que aqui passaram. O União é muito maior que do que todos nós e temos de saber sempre que estamos aqui de passagem e para o servir e não para nos servirmos. Todo o trabalho que será desenvolvido terá de ser validado pelos administradores judiciais e estamos a trabalhar de forma séria para que isso seja feito com total transparência, clareza e respeito pelas instâncias judiciais.
E o União SAD, irá continuar nos Nacionais?
O União SAD é uma empresa e quem decide o futuro da SAD são os seus accionistas. Uma coisa é certa: como o CFU tem 40% da SAD, esta Direcção decidiu por unanimidade que não há margem para mais endividamento. Por isso ou há investidor, ou há capitalização dos accionistas. Vamos aguardar com toda a tranquilidade e avançar apenas com o que podemos pagar. Esta é a nossa postura, e enquanto aqui estivermos assim será.
E o CFU 1913 vai coexistir com o Clube Futebol União?
Esse é um não assunto. Isso nada tem a haver com União e eu só falo do União.
Como é a sua relação com a Direcção e com o Presidente do União?
A relação com o presidente é muito positiva, apesar não estar aqui para fazer amizades, mas sim para trabalhar, até porque às vezes confundimos amizades com trabalho. É uma pessoa que ama o União e que o vive intensamente e são estas pessoas que o União precisa e não de paraquedistas, porque isso nunca foi benéfico para qualquer projecto. Quando digo que ama , ama mesmo, porque quando estamos envolvidos a 1000%, por vezes ultrapassamos barreiras que julgávamos intransponíveis, e é o que tem acontecido, é uma pessoa com uma visão estratégica única. Para quem me conhece sabe que não preciso dar graxa a ninguém, sou muito transparente e verdadeiro. Quem não gosta temos pena. Não estou aqui para agradar a ninguém, mas sim para demostrar a mim mesmo do que sou capaz , com ajuda daqueles que querem serem eficazes comigo no percurso. O Sérgio Nóbrega tem dado “carta branca “ para poder desenvolver o projecto Clube Futebol União mas é um Presidente muito presente e empenhado , bem como toda a direcção que abraçou este projecto. Um bem haja para eles, temos sido unidos e aprendemos todos a fazer algo fundamental: a vida do União só se discute dentro de casa, e temos passado isso para todo o meio envolvente, jogadores, pais, colaboradores. Havia muita gente a falar do União sem estar habilitada para isso. Muita gente quer ser dos órgãos sociais mas poucos aceitam chegar-se à frente para se candidatar é sentar o “rabo” na cadeira das responsabilidades.
Por isso chega de palpites e de ligar a redes sociais e ruído vindo de fora. Filipe Rebelo
O União é mandado pelos órgãos eleitos pelos sócios, é assim desde 1913 e assim continuará a ser.
Portanto, pela coragem, pelo desafio, por não enfiarmos a cabeça debaixo da areia e por acreditarmos que podemos enfrentar e vencer os desafios que nos propomos, demonstramos que estamos aqui para fazer o que precisa ser feito. São poucos aqueles que aceitariam esta missão, mas sei que são estes que vão ficar na história por terem ultrapassado o momento mais difícil da vida do União.
O União não corre perigo?
É mais fácil acabar o mundo do que acabar o União!