"Interrupção dos serviços de comunicação pode ser desastrosa" alertam autoridades na África do Sul
Pelo menos 113 torres de telecomunicações foram vandalizadas nos tumultos que continuam na África do Sul pelo sétimo dia consecutivo, após a prisão do ex-Presidente Jacob Zuma, anunciou hoje a reguladora do sector.
A Autoridade Independente de Comunicações da África do Sul (Icasa, na sigla em inglês) adiantou, em comunicado divulgado na página de internet, que quatro estações de rádio comunitárias em Durban, Pretória e Joanesburgo, "para mencionar apenas algumas", foram igualmente saqueadas e vandalizadas.
De acordo com o Icasa, "a violência, saques e incêndios criminosos no país resultaram na interrupção dos serviços de comunicação e no encerramento de rádios comunitárias".
"Qualquer interrupção dos serviços de comunicação pode ser desastrosa e resultar no aumento da mortalidade, visto que as chamadas de emergência podem ser afectadas directamente", advertiu a autoridade reguladora do sector das telecomunicações, rádio e televisão da África do Sul.
Além das torres de telecomunicações, pelo menos 200 centros comerciais foram saqueados e vandalizados nos últimos dias em várias cidades do país, relatou a imprensa sul-africana, acrescentando que armazéns de distribuição e fábricas foram também afectados.
A refinaria de petróleo, na cidade portuária de Durban, anunciou na terça-feira o encerramento a partir de hoje das suas operações de abastecimento de combustível devido ao corte de vias rodoviárias estratégicas e à situação de elevada insegurança no país.
O Governo sul-africano destacou 2.500 militares para apoiar a polícia a conter os distúrbios na província de origem de Zuma, KwaZulu-Natal, assim como em Gauteng, o motor da economia do país. Mas os protestos estendem-se a várias outras cidades da África do Sul, nomeadamente à Cidade do Cabo, onde vivem mais de 30.000 portugueses.
O Presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, que se reúne hoje com líderes dos partidos políticos, está a ser pressionado para declarar o estado de emergência no país, enfrentando críticas de vários quadrantes pela "demora" e "incapacidade" do Governo e das forças de segurança em restaurar a lei e ordem na África do Sul.
Os motins violentos, saques e intimidação, que eclodiram na quinta-feira na província litoral do KwaZulu-Natal, prosseguem pelo sétimo dia consecutivo apesar da presença do exército no reforço aos meios policiais nas últimas 24 horas.
No KwaZulu-Natal, onde se estima que vivam 20.000 portugueses, pelo menos três negócios de portugueses foram saqueados e vandalizados, disse à Lusa o cônsul honorário Elias de Sousa.
Em Gauteng, onde residem mais de 200 mil portugueses, pelo menos seis grandes superfícies de empresários filhos de madeirenses foram também saqueadas e vandalizadas, relatou um comerciante português à Lusa.
O embaixador de Portugal na África do Sul, Manuel Carvalho, instou na terça-feira os cerca de 450 mil portugueses residentes no país a "ficarem em casa" e a comunicar casos de emergência e de assistência consular ao Gabinete de Emergência Consular em Lisboa.
Em declarações à Lusa, o ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, afirmou que os serviços diplomáticos na África do Sul estão focados no apoio aos portugueses e voltou a pedir cautela à comunidade.
"Espero que os acontecimentos que estão hoje a afligir a África do Sul terminem o mais depressa possível", afirmou Augusto Santos Silva à Lusa, confiando que a normalidade regresse.
Vários órgãos de comunicação social sul-africanos relataram que a população civil se armou com armas de fogo, alguns até com espingardas automáticas e semiautomáticas, bloqueando acessos a bairros e montando "postos de controlo" para proteger negócios, residências e comunidades.
Pelo menos 72 pessoas morreram e mais de 1.200 foram presas pelas autoridades em incidentes de violência, saques e intimidação, que se alastram agora desde o Cabo do Norte à província de Mpumalanga, vizinha a Moçambique, segundo a polícia sul-africana.
O abastecimento de alimentos e combustível em partes de Joanesburgo começou a escassear no final de terça-feira.