Forças de segurança da Guiné-Bissau dispersam protesto pacífico com gás lacrimogéneo
Casa dos Direitos considera situação "lamentável"
O presidente do consórcio da Casa dos Direitos na Guiné-Bissau, Gueri Gomes, disse hoje que o que está a acontecer no país é "lamentável", referindo-se ao protesto pacífico dispersado pelas forças de segurança com gás lacrimogéneo.
"É lamentável o que está a acontecer na Guiné-Bissau, é preciso que de facto todos os guineenses assumam isto com uma certa responsabilidade e não com ânimo leve", afirmou Gueri Gomes, em declarações aos jornalistas.
"Ou deixamos de ser um Estado ou vamos ser um Estado. Não vale a pena a luta de libertação quando estamos a viver este momento, porque o sacrifício que aconteceu durante a luta foi justamente para que as pessoas tenham liberdade. Havia educação, havia saúde, mas não havia liberdade", salientou o activista.
Segundo Gueri Gomes, o guineense tem de "levantar-se e dizer basta".
"O poder político é nosso, nós é que o elegemos. O poder político não pode utilizar a força do povo, porque as forças de segurança, são a força do povo para garantir segurança ao povo", afirmou.
"Quando a força é usada para reprimir o povo, quando o povo pretende de facto manifestar a sua indignação, é grave", disse, atribuindo culpas também à comunidade internacional.
A polícia da Guiné-Bissau dispersou hoje com gás lacrimogéneo algumas dezenas de pessoas que se manifestavam pacificamente em frente à sede da principal central sindical do país para exigirem melhores condições de trabalho.
No local, um forte dispositivo policial começou por cercar os manifestantes, tendo-se depois afastado para em seguida começar a disparar gás lacrimogéneo.
Os manifestantes não entraram em confronto, encontrando-se apenas a gritar palavras de ordem.
Fonte policial no local disse à Lusa que o protesto não estava autorizado.
A União Nacional de Trabalhadores da Guiné-Bissau (UNTG) marcou para hoje o início de uma série de protestos, que vão decorrer até 03 de agosto, após terem falhado as negociações com o Governo.
O protesto devia ter início junto à sede da UNTG, em Bissau, e terminar na Assembleia Nacional Popular.
A central sindical tem convocado, desde dezembro, ondas de greves gerais na função pública, para exigir do Governo, entre outras reivindicações, a exoneração de funcionários contratados sem concurso público, melhoria de condições laborais e o aumento do salário mínimo dos atuais 50.000 francos cfa (76 euros) para o dobro.
O Governo guineense tem proibido a realização de manifestações por causa da pandemia provocada pelo novo coronavírus.
O decreto que prolonga o estado de alerta e que está em vigor até 24 de julho determina que as "reuniões e manifestações são permitidas, desde que se cumpram as medidas relativas ao distanciamento físico mínimo de um metro entre os participantes, ao uso correto da máscara e à higienização das mãos".
O decreto recomenda que os "eventos levem o mínimo de tempo necessário, com vista a reduzir o período de exposição das pessoas".