Tratamentos para a hepatite C diminuíram mais de 60% em 2020
Os tratamentos realizados para a hepatite C diminuíram 62,5% em 2020, em consequência de uma quebra no número de pedidos, anunciou hoje a Associação Portuguesa para o Estudo do Fígado (APEF).
O presidente da APEF, José Presa, citado numa nota enviada à Lusa, afirma que "a pandemia de covid-19 teve um impacto significativo ao nível do diagnóstico atempado da hepatite C, mas também do seu tratamento, registando-se uma quebra de 4.488 tratamentos pedidos em 2019 para 1.682 tratamentos no ano de 2020".
Os vírus da hepatite causam uma inflamação do fígado, que pode desaparecer espontaneamente ou progredir para fibrose (cicatrizes), cirrose ou cancro do fígado e são a causa mais comum de hepatite no mundo, mas a doença pode também ser causada por substâncias como álcool ou certos medicamentos, e por doenças autoimunes.
Face à diminuição dos tratamentos para a hepatite C, o presidente da APEF sublinhou a importância do diagnóstico precoce para evitar os problemas associados ao não tratamento da hepatite, que podem levar à morte.
"O não tratamento da hepatite B e C implicará a evolução para cirrose hepática, e nalguns casos, o desenvolvimento de carcinoma hepatocelular. A cada 30 segundos morre uma pessoa com uma doença relacionada com as hepatites. Desta forma, o diagnóstico precoce e o consequente tratamento é vital. Mesmo em plena pandemia de covid-19, não podemos esperar para atuar contra as hepatites virais", afirmou.
Existem cinco tipos de hepatite virais: a hepatite A é sempre uma doença aguda a curto prazo, enquanto as hepatites B, C e D têm maior probabilidade de se tornarem contínuas e crónicas; a hepatite E é geralmente aguda, e pode ser particularmente perigosa em mulheres grávidas.
Os sintomas variam consoante o tipo da doença e os sintomas podem não ocorrer até que os danos afetem a função hepática, causando fadiga, perda de apetite, perda de peso, peles e olhos amarelados, urina escura, fezes claras e dores abdominais.
O tratamento também varia consoante o tipo de hepatite: no caso de infeção aguda o paciente passa por privação do agente em causa, repouso e dieta, já em situação crónica o tratamento é feito com medicamentos específicos que impedem a multiplicação do vírus.
Embora a hepatite seja uma doença evitável, tratável e, no caso da hepatite C, curável, afeta 325 milhões de pessoas em todo o mundo, causando 1,4 milhões de mortes por ano, o que levou a Organização Mundial de Saúde (OMS)a assumir o objetivo de erradicar a hepatite B e C até 2030.
A Direção Geral da Saúde (DGS) também apelou, em maio de 2021, para realização dos testes gratuitos e confidenciais de VIH, hepatites e infeções sexualmente transmissíveis, no âmbito da Semana Europeia do Teste de Primavera 2021, após decréscimo no número de testes realizados à escala global.
Em Portugal, segundo os dados Infarmed, desde 2015 até ao dia 01 de julho de 2020, foram autorizados 27.239 tratamentos para a hepatite C e iniciados 26.006. A taxa de cura mantém-se nos 97%, com 15.909 doentes curados e 572 não curados.