PandEXIT
Todos esperamos o fim da pandemia e muito se discute como será a recuperação económica no pós-pandemia. O Bank for International Settlements (BIS) publicou um relatório onde aponta três cenários possíveis para o “pandexit”, mas todos têm um ponto em comum: A recuperação será forte, muito desigual entre países, e deixará um pesado legado de dívidas excessivas para as gerações futuras.
O cenário central do BIS prevê uma recuperação relativamente suave, onde a pandemia se estabilizará através do consumo. Neste cenário, será o consumo privado a sustentar a expansão económica, uma vez que parte do pressuposto de que os consumidores serão capazes de superar o “efeito medo” que surgiu com a pandemia. Este efeito medo, por ser muito elástico, desaparecerá logo que se comece a verificar uma redução nas notícias das sucessivas vagas do COVID-19, desaparecendo a aversão ao risco que contagiou os consumidores. As perdas no sector empresarial continuarão limitadas e a reafectação sectorial continuará sem problemas. Nas economias maiores, a inflação acabará por subir para os valores esperados, sendo que qualquer incremento acima do objetivo será temporário. As condições financeiras não se agravarão significativamente. Mesmo neste cenário mais otimista, subsistem diferenças significativas entre países. O mundo entrou na crise de repente e como um só, mas todos eles irão fazer o seu próprio “pandexit”, a velocidades e de formas muito diferentes.
O segundo cenário baseia-se num crescimento mais forte, que prevê um bom controlo da pandemia. A inflação excederá as expectativas e as condições financeiras condicionarão o investimento. Os mercados anteciparão limitações de política monetária muito rapidamente, o que é consistente com um maior impacto da política fiscal para conter a procura e o efeito de redução nas taxas de poupança.
O terceiro cenário, em que a recuperação económica estagna, é o mais plausível se a pandemia se revelar difícil de controlar. Ondas sucessivas de novas variantes da doença, que possam ser mais virulentas e impermeáveis às vacinas, levarão a medidas de contenção mais apertadas, e a novos retrocessos no consumo e no investimento, sendo que o aumento das taxas de poupança poderá ser o principal fator a condicionar a recuperação.
Neste cenário, a temida onda de insolvências poderia concretizar-se, com importantes reflexos para o sector financeiro. As estimativas de perdas de crédito incorporadas no cenário central sugerem que estas podem ser absorvidas pelos bancos, com as normais tensões que poderão sentir, mas sem graves efeitos para o sector. É importante salientar que a dívida dos sectores mais afetados representa uma fração relativamente pequena do total. Mas esta conclusão depende da disponibilidade do apoio do estado e da estabilidade política necessária para que esses apoios aguentem o tempo que for necessário. No terceiro cenário, as perdas das empresas poderiam ser maiores, possivelmente em pé de igualdade com as da Grande Crise Financeira, e alguns dos Bancos que recentemente retrocederam as provisões anteriormente constituídas, poderão ser apanhados de surpresa.
O apoio político continua a ser essencial para que as economias voltem a ficar saudáveis, mas este apoio tem um importante reverso da moeda. Uma vez terminada a pandemia covid, os responsáveis políticos irão enfrentar um novo desafio a longo prazo: como resolver a dívida entretanto gerada, e como reconstruir as margens de segurança tanto a nível local, através das políticas orçamentais, como a nível mais global, com medidas de política monetária.