As feridas saram, mas ficam as marcas
Pouco mais de sessenta dias nos separam do próximo acto eleitoral, agendado para 26 de Setembro próximo.
Até lá, um reino de promessas e propaganda, qual mercado de sonhos e ilusões, fará parte do nosso quotidiano, oferecido pelos putativos candidatos à presidência da autarquia e aos outros órgãos do poder local. As nossas caixas de correio serão, literalmente, inundadas de panfletos, manifestos e afins dos vários partidos concorrentes. Tocarão à nossa porta, com desmesurada simpatia, mesmo os que parecem não nos conhecer, os que esboçam um sorriso amarelo como cumprimento e os que nos evitam fora da campanha eleitoral. Nada a que já não estejamos habituados. Mas, por incrível que pareça, continua a haver muito boa gente que não consegue pensar por si própria, que desconhece o livre arbítrio e acredita que tudo o que luz é ouro. Em campanha eleitoral todos os argumentos são válidos, é a premissa.
Tudo isto já está velho e gasto, mas continua na ordem do dia. Às vezes era bom não ter memória, ou que se pudesse passar uma esponja sobre as recordações que nos magoam e recomeçar sem ontens, só amanhãs. O problema é que a memória traz ao de cima precisamente as lembranças que mais doem. E há feridas que nunca saram.
Todos os partidos terão, creio eu, as suas próprias estratégias e linhas de orientação para atingirem os seus objectivos. É legítimo. Respeito isso. O que eu não posso aceitar é que, em nome de uma ideologia partidária, que roça o fanatismo, se cometa injustiças sem apelo nem agravo, prejudicando inocentes. Quando se questiona que razões levaram à tomada de determinado procedimento, a resposta não se faz esperar: “São promessas eleitorais".
Pois bem. Foi para satisfazer uma promessa eleitoral que, em determinada altura, se atribuiu "bolsas"de cariz social e emprego a meninos cujos pais auferiam os seus vencimentos salariais e se deixou de fora outros, órfãos, cujos únicos meios de subsistência eram o abono de família e a pensão de sobrevivência de um dos progenitores. Não fora a ameaça da denúncia na comunicação social e a situação não teria sido revertida. Fi-lo "ontem". Fá-lo-ei novamente se for necessário, porque promete-se ser e fazer para todos indiscriminadamente, quando se sabe de antemão que só seremos para alguns.
Por isso, confio, desconfiando. Porque se mente mais do que se fala verdade. Mais. Quem não sustenta em público o que diz em privado, não me merece qualquer credibilidade.
Não foi ninguém que me disse. Foi o que vivi bem de perto. Não compactuo com injustiças. Mesmo que me sinta muitas vezes em contra mão, não mudarei de direcção.
E vou continuar a cumprimentar, porque cada um só pode dar aquilo que tem.
Madalena Castro