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Presidente sul-africano apela à calma após dias de violência política no KwaZulu-Natal

No país vive uma importante comunidade portuguesa, nomeadamente madeirense

Foto EPA/Elmond Jiyane/GCIS
Foto EPA/Elmond Jiyane/GCIS

O Presidente da República da África do Sul, Cyril Ramaphosa, apelou hoje à calma após dias de violência política na província litoral do KwaZulu-Natal, vizinha a Moçambique, que eclodiu depois da prisão do ex-Presidente Jacob Zuma.

Cyril Ramaphosa, que é também presidente do Congresso Nacional Africano (ANC, na sigla em inglês), no poder na África do Sul desde 1994, disse que "o impacto da violência pública contra a indústria do transporte rodoviário de carga e a destruição das autoestradas que servem de artérias económicas afetarão também aqueles que organizam e cometem este tipo de crimes".

"O Presidente Cyril Ramaphosa apelou às comunidades no KwaZulu-Natal que desistissem de minar o Estado de direito e infligir danos à economia", lê-se no comunicado divulgado na tarde de hoje, na página oficial da Presidência da República sul-africana na internet.

"A Constituição salvaguarda o direito de protestar, mas o protesto não pode ser abusado para infringir a lei ou para destruir propriedade e ameaçar meios de subsistência. Os elementos criminosos devem ser condenados pela Justiça", sustentou.

Por seu lado, o porta-voz do partido no poder, Pule Mabe, condenou a violência no KwaZulu-Natal, advertindo para "o impacto que poderá ter sobre a economia já em declínio".

"Estamos preocupados que a destruição de propriedade e o impedimento do funcionamento da economia afetem os esforços para se criar emprego e melhorar a vida dos cidadãos", salientou Mabe, acrescentando que "a paz e estabilidade nas áreas afetadas é uma prioridade para o ANC e o movimento democrático".

Vários órgãos de comunicação social sul-africanos relataram que simpatizantes do ex-presidente Jacob Zuma estão envolvidos nos violentos protestos exigindo que o antigo chefe de Estado seja libertado da prisão.

Zuma foi detido e encarcerado na noite de quarta-feira no Centro de Serviços Correcionais de Estcourt, província do KwaZulu-Natal.

Na semana passada, o Tribunal Constitucional da África do Sul, a mais alta instância judicial no país, condenou o ex-presidente Zuma a 15 meses de prisão por desrespeitar uma ordem para obedecer a intimações e testemunhar perante a comissão que investiga a "captura do Estado" pela grande corrupção durante o seu mandato.

Na quinta-feira, membros do Congresso Nacional Africano aliados a Jacob Zuma, começaram por bloquear a autoestrada N2 e várias vias rodoviárias na cidade costeira de Durban e em Pietermaritzburg, capital da província do KwaZulu-Natal, que faz fronteira com Moçambique.

Mais de 20 camiões pesados de transporte de mercadorias foram incendiados na noite de sexta-feira na autoestrada N3, próximo à localidade de Mooi River, e que se encontra atualmente encerrada, segundo a imprensa local.

Pelo menos 27 pessoas foram presas por violência pública, roubo, destruição de propriedade e intimidação, disse a polícia sul-africana.

O porta-voz policial Jay Naicker referiu que a situação no KwaZulu-Natal permanece "instável", acrescentando que a polícia sul-africana reforçou o número de meios e efetivos ao longo dos principais eixos rodoviárias naquela província do litoral do país.

O Partido Livre Inkatha (IFP, na sigla em inglês), de base zulu, na oposição, condenou os atos de violência no KwaZulu-Natal, instando as autoridades provinciais e a polícia a agirem "decisivamente" contra os responsáveis pelos violentos protestos.

Em declarações ao canal de televisão sul-africano ENCA, na tarde de hoje, o porta-voz da Fundação Jacob Zuma, Mzwanele Manyi, defendeu os protestos violentos no KwaZulu-Natal, alegando que a violência foi "provocada" pelo Tribunal Constitucional sul-africano e que a fundação "condena a provocação violenta do povo que poderia ter sido evitada numa noite por uma simples decisão do Tribunal Constitucional".

"As pessoas não estão a aceitar injustiças", afirmou.

Zuma, de 79 anos, que liderou o ANC de 2007 a 2017, foi considerado culpado por não obedecer à ordem do tribunal para comparecer perante a comissão que investiga alegações de corrupção no Estado sul-africano durante o seu mandato presidencial de 2009 a 2018.

Paralelamente, o antigo presidente está também a ser julgado num caso que investiga corrupção, branqueamento de capitais e fraude, relacionadas com um negócio de armas multimilionário, assinado no final dos anos de 1990, na altura em que exerceu o cargo de vice-presidente da República (1999-2005) no mandato do ex-presidente Thabo Mbeki.