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Egipto e Sudão criticam "intransigência" da Etiópia sobre megabarragem no Nilo Azul

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Os ministros dos Negócios Estrangeiros e dos Recursos Hídricos de Sudão do Egito criticaram hoje a "intransigência" da Etiópia sobre a controversa megabarragem que Adis Abeba está a construir no Nilo Azul, cuja segunda fase enchimento decorre atualmente.

Num comunicado conjunto, os responsáveis egípcios e sudaneses, que estiveram hoje reunidos na capital do Sudão, Cartum, manifestaram a sua preocupação com os "graves riscos e efeitos do enchimento unilateral da barragem", cuja segunda fase já começou e que deverá estar concluída nos próximos meses de julho ou agosto, sem um acordo comum entre os três países.

Nesse sentido, Cartum e Cairo apelaram à comunidade internacional para "pressionar a Etiópia a negociar seriamente, de boa fé e com verdadeira vontade política".

Os dois países pediram também para que a comunidade internacional intervenha para proteger os países da bacia do Nilo dos "riscos relacionados com a insistência contínua da Etiópia em prosseguir a sua política" e "impor" a sua vontade junto de Sudão e Egito.

"A atitude unilateral da Etiópia manifestou-se no anúncio da sua intenção de encher a barragem durante a próxima estação chuvosa, sem ter em conta os interesses do Sudão e do Egito", acrescenta a nota.

Após o fracasso das últimas rondas negociais, realizadas entre 04 e 06 de abril sob os auspícios da presidência rotativa da União Africana, a Etiópia disse que iria avançar com o processo de enchimento da Grande Barragem do Renascimento Etíope (GERD, em inglês) e que fez uma oferta ao Egito e ao Sudão para facilitar a troca de informações sobre o processo, que ambos os países rejeitaram.

Cairo e Cartum, por sua vez, alertaram Adis Abeba sobre a tomada de qualquer "ação unilateral", afirmando que, nessa eventualidade, "todas as opções estarão abertas".

Os dois Estados consideram que o processo de enchimento da barragem pode afetar gravemente os níveis de água do Nilo nos seus respetivos troços.

A Etiópia, por sua vez, considera que o projeto é estratégico para o seu desenvolvimento, tanto em termos de irrigação, como em termos de produção de eletricidade.

A GERD, avaliada em mais de 4 mil milhões de dólares (mais de 3,5 mil milhões de euros), deverá recolher 13,5 mil milhões de metros cúbicos de água do rio Nilo Azul durante a época chuvosa, aumentando a reserva para 18,4 mil milhões de metros cúbicos, segundo este departamento governamental.

O Nilo Azul, rio que conflui com Nilo Branco e com o rio Atbara, é um dos principais contribuintes do rio Nilo, sendo responsável, durante a estação chuvosa, por até cerca de 80% da água deste último.

Atualmente, a GERD está 80% concluída, esperando-se que atinja a plena capacidade de produção em 2023, o que a tornará na maior central hidroelétrica africana e a sétima maior do mundo, segundo noticiam órgãos de comunicação social estatais.

Sudão e Egito temem que a construção do projeto, avaliado em e que vai permitir à Etiópia gerar 6.000 megawatts de eletricidade, coloque o caudal do rio Nilo sob o controlo da administração etíope.

Com cerca de 6.000 quilómetros, o rio Nilo é uma fonte vital para o abastecimento de água e eletricidade para cerca de 10 países da África Oriental.