Inverno aumenta dificuldades de migrantes venezuelanos na América do Sul
A Agência da ONU para os Refugiados (ACNUR) alertou hoje que a chegada do inverno, "agravado pelos efeitos devastadores da covid-19", ameaça diretamente a saúde e sobrevivência dos refugiados e migrantes venezuelanos no sul da América Latina.
A ACNUR alerta ainda que "é alarmante que o Plano Regional de Resposta para os Refugiados e Migrantes da Venezuela continue a ter um financiamento insuficiente" e apelou à comunidade internacional que se comprometa a oferecer apoio, recordando que para 17 de junho está prevista a Conferência Internacional de Doares em solidariedade com os venezuelanos que emigraram.
O alerta foi feito através de um comunicado de imprensa em que se explica que "quase 2 milhões" de venezuelanos se estabeleceram na Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai, Peru e Uruguai e que "alguns desses países estão entre os que registam o maior número de infeções e mortes com a covid-19 em todo o mundo".
Segundo o ACNUR, os venezuelanos têm sido incluídos nas respostas de saúde desses países, "mas com os hospitais a operarem em pleno para tratar dos pacientes com a covid-19, o acesso aos cuidados de saúde tornou-se cada vez mais desafiador para todas as outras doenças, incluindo aquelas associadas ao inverno".
"As medidas de prevenção da covid-19 têm tido um grave impacto socioeconómico nos países da região, e as pessoas refugiadas e migrantes têm sido particularmente afetadas (...) estima-se que a maioria dos venezuelanos, que dependiam muito do setor informal da economia, perderam os seus empregos durante a pandemia", explica.
Aquela agência da ONU alerta que "à medida que as temperaturas caem, os venezuelanos enfrentam um aumento da pobreza, despejos e riscos proteção. Muitos não podem comprar aquecedores, combustível, roupas e medicamentos, e as famílias estão reduzindo a ingestão de alimentos".
Segundo o representante regional do ACNUR para a América Latina, Juan Carlos Murillo, "o inverno ameaça expor os venezuelanos a sofrimentos indescritíveis".
"É necessário mais apoio para atender às necessidades crescentes", afirma.
O comunicado precisa que apesar do fecho da fronteira", os venezuelanos continuam a atravessar o Corredor Andino e entram no Brasil em busca de segurança e de um lugar para se estabelecer" e "no Peru, o inverno chegou no início deste ano, com as comunidades das terras altas a registarem temperaturas negativas e nevões".
No Chile, afirma, "tempestades, chuvas torrenciais e baixas temperaturas" afetam o centro e o sul do país, e na fronteira norte "onde os venezuelanos chegam a pé sem roupas adequadas, as temperaturas noturnas caem para menos de zero graus".
Em várias cidades do Chile, da Argentina, Bolívia e Uruguai o ACNUR prevê distribuir, nas próximas semanas, "'kits' de inverno e cobertores térmicos, alojamento de emergência, assistência em dinheiro e vouchers eletrónicos para a compra de aquecedores, combustível e roupas de inverno".
No Brasil fortes tempestades têm atingido a região amazónica, "provocando as segundas maiores enchentes desde 1902, causando danos à infraestrutura humanitária e obrigando milhares de pessoas a deslocar-se".
Segundo a imprensa da capital venezuelana, mais de 4,5 milhões de venezuelanos saíram da Venezuela desde 2015, fugindo da crise política, económica e social que afeta o país.