Investigadores de Coimbra descobrem mecanismo de infecção pela bactéria Salmonella
Um estudo internacional liderado por investigadores da Universidade de Coimbra (UC) revelou um novo mecanismo de infecção específico da Salmonella. Este mecanismo pode ser importante para o desenvolvimento de novas abordagens terapêuticas para travar infecções causadas por esta bactéria.
A infecção provocada por Salmonella ocorre após a ingestão de alimentos contaminados e afecta principalmente o trato digestivo. Os infectados podem desenvolver enjoos, cólicas, diarreia, febre e vómitos.
Os resultados da investigação, que contou com a colaboração das Universidades de Würzburg (Alemanha) e de Córdoba (Espanha) e dos Institutos de Ciências Matemáticas e de Homi Bhabha (Índia), acabam de ser publicados na revista Nature Communications.
Normalmente, quando as células do corpo humano são infectadas por vírus ou bactérias, comunicam com as células vizinhas saudáveis para orquestrar uma resposta contra a infecção. Neste estudo, os investigadores mostram o efeito oposto: as células infectadas por Salmonella libertam proteínas que facilitam a infecção das células vizinhas. Por esta razão, foi necessário avaliar e identificar “moléculas-chave” envolvidas no processo de infecção e disseminação, para melhor compreender onde actuar para impedir a infecção.
Em particular, os investigadores identificaram uma proteína, a E2F1, que se encontra diminuída durante a infecção por Salmonella, quer nas células do hospedeiro, que estão infectadas com a bactéria, quer nas células vizinhas. A diminuição da proteína E2F1 leva à desregulação da expressão de moléculas envolvidas no controlo da interacção bactéria-hospedeiro, particularmente microRNAs (pequenas sequências de ARN não-codificantes), o que por sua vez promove a multiplicação da bactéria nas células infectadas.
Adicionalmente, descobriram que as células inicialmente infectadas libertam moléculas para o espaço extracelular (fora das células), em particular a proteína HMGB1, que activa as células vizinhas tornando-as mais receptivas à infecção por Salmonella. Segundo a líder do estudo, Ana Eulálio, investigadora do Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra (CNC) e docente da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), "trata-se de um novo mecanismo que aumenta o nosso conhecimento sobre as interacções complexas estabelecidas entre as nossas células e os microrganismos, neste caso a bactéria Salmonella".
A grande novidade associada a este trabalho, explica, é o facto de, "contrariamente ao paradigma existente, termos descoberto que a Salmonella, para além de manipular as células humanas infetadas, modifica também as células vizinhas não infetadas no sentido de aumentar a sua suscetibilidade à infeção e, desta forma, facilitar a disseminação da bactéria".
Os resultados agora publicados foram obtidos através de estudos em células e em modelos animais, com o auxílio de ferramentas de bioinformática e de biologia celular e molecular. Estes dados podem vir a desempenhar um papel crucial no impedimento da progressão da infecção por esta bactéria. Miguel Mano, investigador do CNC e docente da FCTUC, e também autor do estudo, esclarece que "o conhecimento dos mecanismos moleculares explorados pela Salmonella pode possibilitar o desenvolvimento de estratégias terapêuticas capazes de bloquear a disseminação da infecção".