Pela nossa saúde
Como é possível em 31 de dezembro de 2020 haver 117.691 actos médicos em lista de espera?
A pandemia que invadiu as nossas vidas, levou a que toda a nossa preocupação se virasse para a covid-19 e, naturalmente, para as questões de saúde e todas as medidas relacionadas com o combate à doença.
A verdade é que as outras doenças não deixaram de existir, tal como os problemas no Sistema Regional de Saúde (SRS). Continuam as dificuldades para marcar consultas, exames de diagnóstico e para conseguir realizar uma cirurgia, e não sabemos como e quando vão ser resolvidos os problemas das listas de espera.
A pandemia de Covid-19 não explica tudo. E em particular não explica o porquê de um problema que tem sido crónico deste governo e do anterior, não ter sido resolvido antes.
Não explica porque razão este governo esconde um problema de todos, quando deveria empenhar-se em resolvê-lo de uma vez por todas. A pandemia veio trazer situações excepcionais, entropias adicionais, mas face aos últimos relatórios não é desculpa para tudo.
A realidade e os factos traçam um retrato do nosso SRS bem diferente daquilo que o Governo Regional propagandeia, parecendo até viver numa ficção.
O resultado da má-gestão na saúde está à vista de todos com um quadro negro dos atrasos em todos os indicadores, em particular das consultas e exames complementares de diagnóstico e terapêutica. Estamos perante um estágio de falência do nosso SRS.
Como é possível em 31 de dezembro de 2020 haver 117.691 actos médicos em lista de espera?
Quero recordar, que de acordo com os dados conhecidos, existem na Madeira:
31.119 actos de imagiologia em lista de espera; 22.094 exames em lista de espera; 19.794 cirurgias em lista de espera. Nas consultas a lista de espera aumentou mais 14% entre 2019 e 2020, passando de 39.191 para 44.684 consultas em lista de espera. Há 8.377 consultas só de oftalmologia em lista de espera. São milhares de pessoas em suspenso. Milhares de pessoas cuja saúde pode ficar seriamente comprometida com a incapacidade do governo resolver um problema que se arrasta há anos, sem solução à vista.
Como é possível? E não esqueçamos que os responsáveis são os mesmos. O mesmo partido, agora com a bengala partidária do CDS, que deixaram o problema avolumar-se.
Se o maior problema de uma área crítica da nossa Região não vê uma resolução ou mesmo uma melhoria, então o que estão mesmo a fazer?
Governar é resolver problemas e fazer avançar a nossa Região. Não é esconder os problemas e agir com base nos interesses políticos pessoais e partidários.
O senhor Secretário Regional de Saúde e este governo escondem a verdade, respondem sempre de forma evasiva e privilegiam a propaganda por uma razão muito simples: há uma incapacidade de resolver os problemas.
Ouvimos o senhor Secretário Regional de Saúde responder sempre com a mesma narrativa de que as listas de espera são dinâmicas. Pois bem, 117.691 actos médicos em lista de espera numa população de pouco mais de 250 mil pessoas não é um exemplo de lista dinâmica. Desde 2015 que a lista de espera “dinâmica” tem mais de 100 mil actos médicos pendurados. Esta é uma prova de incapacidade de resolver o problema.
Estes números vêm demonstrar algo grave. Que o SRS caminha em direção a uma espiral negativa e preocupante, que deveria colocar o Governo Regional em alerta máximo. Empenhado em trabalhar com todos na resolução deste problema. Empenhado na transparência dos números por respeito não apenas à oposição, mas aos cidadãos, aos profissionais de saúde que todos os dias trabalham e lutam em condições que não são, muitas vezes, as melhores. E é graças certamente aos nossos profissionais de saúde que estes números não são piores. Os efeitos destes atrasos na vida das pessoas, em particular naqueles que não têm possibilidade de recorrer aos serviços de saúde privados, são tremendos. Efeitos gravíssimos na deterioração da sua saúde. Entretanto na Assembleia Regional o PSD/CDS chumba as nossas propostas para a resolução do problema, como aconteceu na semana passada. Este governo está demasiado preso, demasiado conformado, demasiado preocupado consigo próprio e com o futuro político dos elementos que o compõem quando deveríamos ter um governo de ação, empenhado em concretizar soluções para as pessoas. Pela nossa saúde, precisamos de uma mudança.