Obrigado Vice Almirante Gouveia e Melo
A verdade é que Gouveia e Melo conseguiu não só endireitar todo o processo, como através do rigor, da exigência e do trabalho, acelerá-lo
Vai regressando (finalmente!) aos poucos alguma da normalidade que havíamos perdido. Ou pelo menos, do que era para nós o estado de normalidade. Ainda esta semana foi determinado pelo Governo o alargamento do horário da restauração, o aumento da lotação nos transportes públicos e nas salas de espectáculos e o regresso dos adeptos aos eventos desportivos. Prevê-se que se tudo correr como é desejável a grande maioria das restrições sejam levantadas até ao final de Agosto, ficando para o fim os bares e as discotecas que foram, aliás, a título de curiosidade, os primeiros a encerrar e por essa altura farão precisamente um ano e meio de portas fechadas.
Se o regresso se vai dando aos poucos é bom não esquecer quem por diversos motivos contribuiu para este tão desejado aligeirar de medidas. Logo à cabeça aqueles que na linha da frente deram tudo e mais um pouco para que não ficasse ninguém para trás. Já lhes prestei a minha homenagem numa crónica anterior mas nunca é demais recordar. Houve no entanto uma pessoa que nos conseguiu restaurar a confiança. O Vice Almirante Gouveia e Melo. Mesmo em tempo de pandemia, num País tremendamente desconfiado e desiludido e que iniciou este processo (como bem se lembrarão) com enormes dúvidas. Assolado por casos de pessoas que se aproveitaram dos cargos públicos para furarem filas de vacinação mas também pela falta de critérios ou critérios erróneos que foram definidos. Mas também marcado por uma liderança, de Francisco Ramos, repleta de erros, de arrogância e de suspeitas de irregularidades.
Se não seria fácil restaurar essa confiança depois de um início titubeante muito menos num País como Portugal em que tendencialmente achamos sempre que tudo vai dar para o torto e em que ao mínimo erro bilhardamos com os vizinhos. A verdade é que Gouveia e Melo conseguiu não só endireitar todo o processo como através do rigor, da exigência e do trabalho, acelerá-lo. Acabam as próprias Forças Armadas por sair fortalecidas e fica no ar a ideia de que talvez se a elas tivessemos recorrido mais cedo (e noutras situações) teríamos tido melhores resultados. A forma como explicou que “a estratégia é a capacidade de manter o foco quando não dominamos todas as variáveis, quando há imenso ruído à nossa volta e tudo nos parece confuso”, é absolutamente deliciosa. O sentido prático que tanto precisávamos.
Ainda ontem, numa homenagem surpresa no Congresso dos Médicos alertava e muito bem para o facto de os países ricos não estarem a ajudar os países pobres e quererem açambarcar todas as vacinas disponíveis e como isso pode vir a ter um efeito boomerang e atingir novamente os ricos. Disse que é um imperativo ético alterar a postura mas também por questões de inteligência. A forma como nos tem conduzido no meio deste processo pode ser rotulada de diversas formas e assume várias dimensões. Conseguir aliar ao rigor, à ética e ao profissionalismo e sentido de missão uma enorme dimensão humana não está por certo ao alcance de todos. Hoje podemos dizer com total segurança que nem todos os líderes são maus e que no momento de maior necessidade temos a sorte de ter à nossa disposição uma personalidade que ficará marcada de forma indelével na nossa história. Aqui fica o meu obrigado a um homem que conseguiu de forma subtil mas contundente ultrapassar a falta de civismo e o egoísmo humano.
“No fim de tudo, nenhum ser humano vive isolado. Nós somos uma comunidade. Nenhum ser humano se vai salvar sozinho e mesmo que se salvasse sozinho, para quê? Para ficar sozinho no Mundo? Nós somos uma comunidade e só assim enquanto comunidade conseguimos reagir.”
-Vice Almirante Gouveia e Melo