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Está tudo dito

Quarenta anos depois, a Madeira voltou a ser palco das cerimónias do dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.

Acabada a festa, é tempo, como diz o povo de “desarmar o trono” e de analisar o que ficou.

Infelizmente para memória futura ficou muito pouco, um excelente discurso humanista da Presidente das Comemorações do 10 de junho Dra. Carmo Caldeira, a apresentação do livro do autonomista Dr. Pestana Reis e um magnífico concerto da Orquestra Clássica da Madeira.

Ao invés de 1981, em que o então Presidente da República Ramalho Eanes referiu-se expressamente à importância da autonomia referindo “o Estado democrático não receia a diferenciação regional que a autonomia regional permite e exige”, o atual Presidente Marcelo Rebelo de Sousa preferiu omitir no seu discurso quaisquer referências a esta realidade autonómica e ao trabalho daqueles que lutam diariamente para a concretização de Portugal no atlântico.

Perdeu-se uma oportunidade para aprofundar e divulgar a experiência autonómica madeirense de quarenta e cinco anos e para realizar como aconteceu da primeira vez, reuniões de trabalho entre os dois Governos com vista à resolução dos dossiers pendentes da Madeira.

O Primeiro - Ministro chegou à Madeira mudo e saiu calado.

Importa valorizar o atual silêncio de António Costa, silêncio este que contrasta com os inúmeros anúncios, com as variadas promessas do Primeiro – Ministro em relação à Madeira efetuadas nos últimos anos, relativamente ao financiamento de cinquenta por cento do novo Hospital da Madeira, à ligação marítima por ferry entre o continente e a Madeira todo o ano, à construção de novas esquadras da PSP na Região, entre muitas outras.

Ora o silêncio de António Costa tem duas importantes dimensões, a primeira é positiva, porque pelo menos o Primeiro – Ministro não voltou a criar uma falsa expectativa aos madeirenses, não repetiu as inverdades e isso deve ser valorizado.

Mas também é preciso saber porque razão ficou calado na visita à Região? Por uma razão óbvia, conhecendo quem conhece António Costa percebe que ele próprio já nem sabe o que dizer em relação às promessas que assumiu com os madeirenses, porque nos últimos seis anos nada avançou, nada se alterou e está praticamente tudo na mesma em relação à Madeira.

O Governo da República continua a não cumprir com o co - financiamento que prometeu do novo Hospital da Madeira e a disponibilizar muito menos que os cinquenta por cento prometidos, deduzindo ilegitimamente o valor dos Hospitais Dr. Nélio Mendonça e dos Marmeleiros.

Continua sem sair da gaveta o compromisso da ligação marítima todo o ano entre o continente e a Madeira e a regulamentação do subsídio social de mobilidade.

Continua sem sair do papel e sem passar do domínio das meras intenções e de meros projetos de execução as obras das novas esquadras da PSP da Madeira.

Perante estes incumprimentos, até António Costa, pessoa hábil nas palavras e nos compromissos, já tem dificuldade em dizer algo mais.

O seu silêncio é bem demonstrativo do seu incómodo e da sua incapacidade e essa segunda dimensão do silêncio deve ser valorizada negativamente.

Alguns dirão, sempre é melhor estar em silêncio do que voltar a insistir nas inverdades, nas promessas e nos compromissos com a Madeira que sabe que não vai cumprir.

Contudo, o que está por detrás do silêncio, não é bom, porque confirma que quando o próprio António Costa que é uma pessoa hábil na promessa e na fuga, quando a única estratégia que consegue adoptar é a do silêncio - é a prova evidente, clara, manifesta e incontestada de que o Primeiro - Ministro já nem consegue falar do assunto porque está praticamente tudo na mesma.

Ao contrário do continente, na Madeira não existem sequer primeiras pedras para o Governo da República inaugurar e para fazer de conta que as suas promessas serão concretizadas.

A verdade é que António Costa não disse nada na Madeira porque não havia nada para dizer e com isso está tudo dito.