China "veste-se" de vermelho para centenário do Partido Comunista
Para quem vive na China, o centésimo aniversário do Partido Comunista, que se celebra esta semana, é uma data difícil de esquecer, com filmes, exibições ou concertos a exaltarem o regime por todo o país.
Placas e atividades comemorativas vincam o papel do Partido na ascensão da China, desde a fundação da República Popular, em 1949, até às reformas económicas que permitiram ao país converter-se na segunda maior economia mundial.
"Deu-me vontade de chorar", diz Zhang, estudante de 22 anos, à agência Lusa, após assistir a uma ópera no sopé das cadeias montanhosas de Jinggangshan, na província de Jiangxi.
A visita de Zhang à região, conhecida como o "berço da Revolução Chinesa", onde o fundador Mao Zedong travou as suas primeiras batalhas e o exército revolucionário foi formado, foi organizada pela sua universidade, como parte de um programa nacional, designado "Educação Vermelha".
"Acho que não teríamos uma vida tão boa sem o esforço dos nossos antepassados", aponta e acrescenta: "Devemos recordar a História e agradecer-lhes".
As políticas desastrosas que marcaram o maoismo, como o "Grande Salto em Frente", a campanha de coletivização e industrialização lançada em 1958 que causou milhões de mortos, ou a Revolução Cultural, que mergulhou o país numa década de caos e isolamento, são omitidas, assim como outros episódios suscetíveis de abalar a legitimidade do Partido Comunista Chinês (PCC).
O PCC foi estabelecido, em segredo, em 1921, após o colapso da Dinastia Qing, em 1912.
A morte de Mao Zedong, em 1976, trouxe reformas económicas que abriram a China à economia de mercado, mas o Partido reteve a sua estrutura autoritária de governo marxista-leninista.
Apesar do trepidante desenvolvimento económico das últimas décadas, que gerou fortes desigualdades sociais e uma devoção ao dinheiro entre os chineses, o objetivo final "continua a ser a construção de uma sociedade comunista", argumenta Wang Xing, professor na Faculdade de Estudos do Marxismo da Universidade Renmin, em Pequim.
"A missão inicial mantém-se", explica à Lusa.
"Existem metas para alcançar nos próximos cinco, 15 e 30 anos, mas o plano macro a longo prazo é a construção do comunismo", acrescenta.
O PCC é o partido comunista há mais tempo no poder.
O desenvolvimento económico ou o sucesso na luta contra a pandemia de covid-19 aumentaram a confiança dos líderes e funcionários chineses, que passaram a promover abertamente o seu modelo de governação como alternativa viável à democracia de estilo ocidental.
Desde a ascensão ao poder do secretário-geral do PCC e Presidente da China, Xi Jinping, em 2013, o Partido voltou a penetrar na vida política, social e económica da China, enquanto o poder político se centrou na sua figura, abdicando do processo de consulta coletiva e descentralização da autoridade, promovida pelos seus antecessores para evitar os excessos maoistas.
O país passou também a adotar uma postura internacional mais assertiva.
As mudanças levaram a relação entre a China e os Estados Unidos a deteriorar-se rapidamente, com várias disputas simultâneas, incluindo uma prolongada guerra comercial e tecnológica. Em Pequim e em Washington, referências a uma nova Guerra Fria tornaram-se comuns.
Wang identifica essas "tensões externas" como um dos principais desafios para o Partido.
"Isto tem impacto nos intercâmbios culturais, científicos ou tecnológicos", nota.
A nível interno, apesar de ter eliminado a pobreza extrema, segundo os dados oficiais, o país asiático continua a carecer de uma rede de segurança social. Cerca de 40% da população chinesa permanece no meio rural, sem acesso a serviços básicos.
"Continua a existir grande discrepância no nível de desenvolvimento entre diferentes regiões", diz Wang.
"Isso é algo que tem que ser resolvido na próxima etapa", defende.