A injustificável hostilidade
Não teremos descanso tão cedo. apenas pausas para pensar e reajustar estratégias
Há factos que nos obrigam a pensar, a tentar ver para além do óbvio, o que nem sempre é fácil, tal a quantidade de informações a processar em cada minuto pandémico e a diversidade de frentes susceptíveis de escrutínio. Não nos levem a mal, mas não conseguimos acudir a todas as solicitações quando há uma, essencial e transversal, da qual não nos podemos desviar.
Dos pequenos pormenores aos grandes momentos sobram indicadores que confirmam a necessidade de vigilância permanente nesta era em que os dados adquiridos duram horas e que as certezas são circunstanciais. Tudo muda a um ritmo frenético e se não houver rumo e estratégia é natural que o desespero tome conta da existência, comprometendo equilíbrios, bom senso e até a saúde de todos.
Se bem que a época seja estival e o calor aperte, que apeteça festejar e respirar sem máscara, que os emigrantes sintam saudades da família e os estudantes da Zona Velha, importa ser prudente e não arriscar. Que cada um faça a sua parte, mau grado o desgaste de meses a fio de concentração naquilo que é realmente importante.
Sentimos o apelo constante à atenção redobrada, à actualização contínua dos casos e das recomendações e à disponibilidade para atender muitos dos problemas que a pandemia criou. Não por mero orgulho naquilo que fazemos mas para que, quem servimos, esteja devidamente consciente do que realmente se passa. Por isso, exigimos toda a verdade, sem alarmismos, nem narrativas.
É com o mesmo espírito que estranhamos posições públicas de gente com poder, aparentemente desfocada ou subjugada a outros interesses que não os mais comuns.
Não se percebe que alguém rejubile com os bloqueios externos. Que a Alemanha e o Reino Unido não queiram misturas turísticas num contexto problemático até é compreensível. Que um acenda o verde enquanto o outro acciona o vermelho é típico numa Europa colorida. Que nesta briga europeia, quem vive do sector, sobretudo em destinos como o nosso em que ambos os mercados emissores valem muito, as compensações se façam através do Estado centralista e pouco sensível às especificidades é que é um drama. Não há diligências que nos valham quando dependemos de gente nem sempre bem humorada.
Não se percebe a apetência por discursos separatistas, que a Madeira seja um destino tão seguro de si que, na lógica do orgulhosamente sós, não se importe de gastar milhões em promoção turística na procura legítima de viajantes nacionais para depois - à conta das alucinações de uns iluminados locais que, de forma sobranceira, fazem da gestão pandémica um trunfo eleitoral - ver um sem número de reservas canceladas.
Subliminarmente há gente sem escrúpulos a fazer com que os continentais menos avisados se sintam inibidos de escolher a Região para passar férias porque, não raras vezes, são vistos como ameaça à terra em que tudo está sob controlo e que dispensa variantes delta e estirpes indomáveis do vírus. Já lhes deram corredor verde, hipótese de testes rápidos e até vouchers e agora voltam a acenar, e bem, com o teste PCR, e, mal, ao lançar avisos contraproducentes.
Depois de Miguel Albuquerque ter assegurado na Assembleia Legislativa que a retoma turística é um dado adquirido e consolidado, ouvimos um líder parlamentar - dizem que a treinar para governante - a jurar a pés juntos que “o que se passa em Lisboa é perigoso para a Região”. Como é que acha que quem tem viagem marcada para Agosto se sente? Viram na televisão as reacções hostis? Esta gente pensa mesmo no que diz ou é herdeira incorrigível do ‘lapsus linguae’?
Não se percebe alguma hostilidade em relação a quem chega de fora quando até temos mais casos de transmissão local do que importados, quando temos controlo sanitário à entrada e os melhores índices nacionais em vacinação, R(t) e organização no combate à pandemia – factores que até pomos ao serviço do País.
A Região, mais do que segura é um “quase paraíso”, por isso, com algumas espécies raras!, mas também com gente que nada deve à honestidade intelectual e merece descansar, nem que seja por instantes.