Êxodo venezuelano continua apesar da pandemia
O fecho das fronteiras devido à pandemia não travou a saída de venezuelanos do país, êxodo que poderá superar até os números da migração síria em contexto de guerra, alertou a Agência da ONU para os Refugiados.
O alerta foi feito pelo representante especial conjunto da Agência da ONU para os Refugiados (ACNUR) e da Organização Internacional para as Migrações (OIM), Eduardo Stein.
"Uma comparação fria dos números coloca este [o venezuelano] como o segundo maior êxodo do mundo, apenas depois da migração da Síria, mas até ao final do ano poderemos estar a ultrapassar os números da Síria", disse à estação privada de televisão TV Venezuela (TVV).
Segundo Eduardo Stein há, no entanto, duas grandes diferenças: "A primeira e principal é que está gente a sair de um país que é dos mais ricos em recursos naturais do continente e talvez o mais rico, e também de um país que não está em guerra, em contraste com o que acontece na Síria".
"Claramente que a região latino-americana não estava preparada para uma migração em massa com essa dimensão e com essas características, no entanto os países vizinhos organizaram-se de várias formas para lidar com este êxodo humano, e com o apoio internacional, prestar serviços essenciais a esta população migrante", disse.
O representante especial conjunto da ACNUR e da ONU explicou que atualmente os números de venezuelanos que emigraram podem ainda ser maiores dos que são conhechidos.
"Os números que referem que 5,6 milhões de venezuelanos deixaram as suas terras, provêm de dados oficiais dos escritórios fronteiriços dos países recetores e é mais do que provável que o número seja maior, especialmente porque quando a pandemia da covid-19 irrompeu, as fronteiras foram fechadas como uma medida de contenção sanitária", disse.
Mas, segundo Eduardo Stein, "apesar de terem diminuído drasticamente o movimento desde a Venezuela para o exterior, desde há três meses, começámos a detetar que esse movimento começou a aumentar".
"Agora estamos entre 1.600 e 2.000 pessoas que estão novamente abandonando a Venezuela, principalmente para a Colômbia como primeiro destino, mas metade dos que emigram não ficam por lá, continuam à procura de oportunidades noutros países, como o Equador, Peru, Chile, Argentina e em menor número, partem para o Brasil e as Caraíbas", explicou.
Stein, que entre 2004 e 2008 foi vice-presidente da Guatemala, sublinhou ainda que "só para ter alguma comparação" de referência "5,6 milhões de pessoas são mais do que a população do Panamá, da Costa Rica e da Irlanda".
"Por outras palavras, é como se a população de um pequeno país tivesse saído", disse recordando que "as condições" do impacto local da covid-19 "se tornaram verdadeiramente complexas e em alguns casos desesperadas, porque todos os elementos de insatisfação, por um lado, e de insegurança ou de atropelos por outro, se agravaram (pioraram)", frisou.
Eduardo Stein disse ainda que "a população venezuelana enfrenta muitas dificuldades para ter meios de vida dignos, acesso aos serviços de saúde, educação para crianças, entre outras, mas continua a haver uma abertura muito generosa de dezassete países [da região] que os acolhem".
A crise na Venezuela agravou-se desde janeiro de 2019, quando o presidente do parlamento, o opositor Juan Guaidó, jurou publicamente assumir as funções de Presidente interino do país, até afastar o Presidente Nicolás Maduro do poder, convocar um Governo de transição e eleições livres e democráticas no país.