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Enid Blyton, autora de 'Os Cinco', novamente acusada de racismo

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A associação English Heritage disse na quinta-feira que alterou as suas referências sobre a reconhecida escritora britânica Enid Blyton, autora da famosa série 'Os Cinco', por esta ter sido criticada pelo seu "racismo e xenofobia".

A English Heritage, associação responsável por homenagear personalidades famosas, divulgou, em nota enviada à agência AFP, que modificou os dados publicados no seu sítio da Internet sobre Enid Blyton, incluindo agora "uma referência sobre o facto de a obra da autora ter sido criticada pelo seu racismo".

Embora esta mudança tenha ocorrido em julho de 2020, o caso ganhou hoje outras proporções, após ter sido divulgado pelo jornal Daily Telegraph.

A mudança gerou uma onda de indignação nos meios de comunicação conservadores, que veem Enid Blyton como a nova vítima do que apelidam de fenômeno de 'cancelamento da cultura', um mecanismo que consiste em condenar ao ostracismo pessoas cujas opiniões são consideradas inaceitáveis.

"Os Cinco estão a ser cancelados", sublinhou o Daily Express, numa referência a uma das séries mais famosas da escritora conhecida também como 'Clube dos Sete'.

Segundo a English Heritagem, a atualização dos dados faz parte de um plano geral para "construir uma imagem mais completa da vida de cada personalidade, incluindo aspetos que as pessoas podem achar perturbadores".

Esta associação cita no seu 'site' a história 'A Boneca Nega' (1966), em que o rosto de uma boneca negra é 'lavado' pela chuva.

E acrescenta que os editores da Macmillan recusaram em 1960 publicar a história 'O mistério que nunca existiu', justificando a presença de "um leve mas nada atraente toque antiquado de xenofobia".

"Existem passagens de Enid Blyton, como a história em que uma boneca tem o rosto descolorido, que não é o que queremos ler a uma criança", apontou à AFP David Buckingham, que escreveu sobre a autora.

Para o professor de comunicação da Universidade de Loughborough, a posição de Enid Blyton, nascida em 1897, era "de certa forma sintomática de seu tempo".

"Mas isso não a exonera completamente", acrescenta, lembrando que a autora gozava de enorme popularidade com as crianças, mas que já era evitada por pais da classe média e do 'establishment' cultural.

Na década de 1950, ela foi rejeitada pela BBC "pela má qualidade" de seus textos, sustentou, referindo que o mesmo se sucedeu "nos anos 60 e 70".