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Repensar o Ensino Profissional na Madeira

O Ensino Profissional é uma das alavancas fundamentais de um novo modelo de desenvolvimento da Região baseado numa economia diversificada, sustentável e competitiva à escala europeia e global.

Antes da pandemia, a falta de recursos humanos qualificados já era apresentada pelas empresas como um dos principais fatores que dificultava o seu crescimento e a capacidade competitiva internacional, hoje, a situação não se alterou. Na área da hotelaria e da restauração, os empresários tentam reabrir os seus negócios e não encontram profissionais com as competências básicas para trabalharem, por exemplo, em serviços de mesa, quartos, cozinha e rececionista.

Também no setor da construção civil, os responsáveis da ASSICOM referem que o mercado regional não tem mão de obra suficiente para responder às necessidades na ordem dos 4 mil trabalhadores.

Ora, se os dados publicados indicam que em março de 2021 estavam registadas 20 428 pessoas em situação de desemprego e 67% não usufruíam de subsídio, apenas 6 747 é que tinham as condições para o receber, a conclusão é óbvia: o problema reside na falta de qualificações necessárias para responder às vagas de emprego.

Não podemos desvalorizar, todavia, a realidade de algumas dessas ofertas de emprego que oferecem salários miseráveis e precariedade laboral nem a onda de madeirenses jovens e qualificados que, por inércia do governo regional, foram obrigados a emigrar à procura de um emprego. Na última década, registam-se 14 mil madeirenses nesse movimento migratório, porque a Madeira não lhes garantia as condições para viverem. A cartilha, já gasta, de que a culpa é sempre dos outros, já não é suficiente para esconder a falta de soluções e de medidas políticas eficazes.

O reitor da UMa também defendeu a necessidade de se implementar políticas concretas que evitassem a “fuga de cérebros” da região e pediu condições para que os melhores alunos não saíssem, nem antes nem depois de se formarem. O arcebispo D. Ivo Scapolo ouviu do bispo do Funchal a preocupação pelo futuro das novas gerações, salientando: “há que buscar soluções para os jovens nesta ilha, para que possam ter um futuro adequado sem terem a necessidade de sair (…) a maioria devia ter, mesmo aqui nesta ilha, a possibilidade de viver boa parte da vida e oferecer os seus serviços”.

Além dos partidos da oposição, como se observa, as forças vivas da sociedade estão atentas e percebem que é preciso agir. Perante estas questões estruturantes para o nosso desenvolvimento só o PSD + CDS e o seu governo é que continuam a “assobiar para o lado” e a defenderem que está tudo feito.

A Região possui um Instituto para a Qualificação, uma Escola Profissional, uma Escola de Hotelaria e outras escolas públicas e privadas que lecionam cursos de formação profissional, no entanto, a falta de trabalhadores qualificados é evidente. A responsabilidade não está nas instituições formativas, que desenvolvem um excelente trabalho, o problema está no modelo em vigor, na falta de visão estratégica do governo regional e na falta de medidas políticas estruturantes.

Na Madeira, os dados são dramáticos: cerca de 46% dos desempregados inscritos possuem habilitações inferiores ao 9.º ano; 53,2% da população ativa possui apenas o ensino básico; 30% dos jovens madeirenses não concluem o ensino secundário; apenas 32,7% de estudantes na região frequentam o ensino secundário profissional. Em 2020, quase 11 mil jovens madeirenses não se encontravam empregados nem frequentavam qualquer sistema de educação, formação ou estágio.

Perante esta realidade, urge o investimento sério numa estratégia regional que inicie a estruturação de um novo modelo educativo para a área da formação profissional. O PS Madeira já apresentou propostas concretas sobre estas matérias que foram chumbadas na ALM pela maioria.