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Crise migratória da Venezuela está num momento crítico e faltam apoios

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Foto EPA/MIGUEL GUTIERREZ

O alto comissário das Nações Unidas para os Refugiados, Filippo Grandi, apelou hoje à comunidade internacional para ajudar os venezuelanos que abandonaram o seu país, alertando que passam por "um momento crítico" no contexto da pandemia da covid-19.

O apelo foi feito durante a 3.ª Conferência Internacional de Doadores em solidariedade com os Migrantes e Refugiados Venezuelanos, convocada pelo Canadá e que decorre em formato virtual.

"Esta conferência chega num momento crítico. A pandemia da covid-19 continua a assolar a América Latina e as Caraíbas e os refugiados e migrantes venezuelanos enfrentam maiores desafios", disse.

O alto comissário explicou que "uma em cada quatro crianças venezuelanas está separada de um ou de ambos os pais" e "uma em cada três (crianças) vai para a cama com fome".

"Quase dois terços não vão à escola desde o início da pandemia. O risco para as mulheres é maior e a violência doméstica, o assédio sexual e os abusos estão a aumentar", afirmou.

Segundo Filippo Grandi, quase metade (49%) dos refugiados venezuelanos perderam os seus empregos e "muitos deles eram quem apoiava economicamente as suas famílias".

O responsável da ONU também referiu que, apesar dos encerramentos das fronteiras devido à pandemia da covid-19, a fuga de venezuelanos continua a aumentar, através de passagens irregulares.

"O deslocamento continua a aumentar através de movimentos irregulares. Isso representa maiores riscos para as pessoas que se deslocam, pelo risco de extorsões e de redes de contrabando de pessoas, violência de género e sexual, tráfico de pessoas ou inclusive de morte", disse.

O alto comissário sublinhou ainda que, como tem sido visto, tornou-se vital melhorar o acesso ao território para evitar os perigos que costumam ser fatais.

Por outro lado, a ministra de Desenvolvimento Internacional do Canadá, Karina Gould, explicou que o propósito da conferência na qual participaram representantes de quase 60 países e instituições "é consegui apoio adicional para responder a uma crise que apesar da sua magnitude, tem passado, em grande medida, despercebida e subvalorizada".

"A resposta a esta crise não pode ficar (apenas) nas mãos dos países de acolhimento, queremos ouvir hoje as vozes de apoio", frisou.

O diretor-geral da Organização Internacional para as Migrações (OIM), António Vitorino, pediu aos países que acolhem migrantes venezuelanos que os incluam nos programas locais de vacinação contra a covid-19.

"Destacamos a importância de contar com soluções a longo prazo em termos de integração socioeconómica e apoio às comunidades de acolhimento em saúde, educação e habitação", frisou.

Segundo a imprensa local, no ano passado, a Conferência Internacional de Doadores em solidariedade com os migrantes e refugiados venezuelanos, angariou 2.790 milhões de dólares (2.344 milhões de euros), dos quais 653 milhões de dólares (549 milhões de euros) em doações.

A OIM alertou, na quarta-feira, numa mensagem divulgada através do Twitter, que "perante a perda de ingressos, despejos e estigmatização crescente, muitos refugiados e migrantes venezuelanos se tornaram mais vulneráveis".

"Para 2021, são necessários 1.440 milhões de dólares (1.210 milhões de euros) para responder às necessidades mais urgentes", precisou a OIM.

Segundo diversos organismos, 5,7 milhões de venezuelanos abandonaram o seu país desde 2015, fugindo da crise política, económica e social.

A crise na Venezuela agravou-se desde janeiro de 2019, quando o presidente do parlamento, o opositor Juan Guaidó, jurou publicamente assumir as funções de Presidente interino do país, até afastar o Presidente Nicolás Maduro do poder, convocar um Governo de transição e eleições livres e democráticas no país.