Mecanismo europeu antecipa "ambiente operacional difícil" na banca em Portugal
O Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE) considera que os bancos em Portugal ainda terão de enfrentar um "ambiente operacional difícil" devido aos "desafios" criados pela crise da covid-19, atenuados agora pelas moratórias e pelo alívio na supervisão.
"O uso extensivo de medidas de apoio governamental e de tolerância na supervisão, a grande percentagem de empréstimos sob moratória -- especialmente para empresas não financeiras --, bem como os esforços continuados para diminuir o nível de crédito malparado reduziram o rácio" destes empréstimos, indica o MEE no capítulo sobre Portugal do seu relatório anual de 2020.
Porém, "no futuro, os bancos [em Portugal] terão de fazer face a um ambiente operacional difícil", antevê o organismo no documento hoje divulgado.
Isto porque "a rentabilidade dos bancos enfrenta desafios decorrentes da constituição de provisões para perdas" e o "sistema financeiro português ainda não passou pela onda de consolidação bancária interna verificada noutros países da zona euro", justifica o MEE.
A pandemia de covid-19 levou a uma recessão económica de 7,6% de 2020, após um crescimento de 2,5% em 2019, devido a uma queda acentuada do consumo privado e das exportações devido ao aumento das medidas de contenção e da incerteza relacionada com a doença.
Fazendo um retrato sobre os efeitos da pandemia na banca portuguesa, o MEE indica que "a pandemia travou a recuperação do setor bancário e reduziu as métricas de rentabilidade, embora a moratória dos empréstimos tenha servido de amortecedor", numa alusão às medidas adotadas devido à crise.
O ano passado foi, assim, marcado por "uma forte contração económica", bem como por um "défice substancial" devido ao "esforço orçamental discricionário" e ainda por um "défice comercial que aumentou à medida que as importações ultrapassavam as exportações", elenca a estrutura.
No que toca à dívida pública portuguesa, o MEE fala no relatório num "elevado peso", que "continua a ser uma vulnerabilidade importante".
"A dívida pública aumentou para um nível historicamente elevado devido à crise pan-europeia, mas espera-se que diminua gradualmente a médio prazo à medida que a economia recupera, embora um crescimento mais fraco e possíveis efeitos cicatrizantes possam dificultar o ritmo de redução da dívida", adianta.