Carta ao Luís de Camões

Caro amigo, Luís, não penses que ao não te contatar mais cedo foi porque não quis.

Há muitos anos que ando para te escrever, mas por isto ou por aquilo, fica por acontecer.

Este ano, como a comemoração do teu dia foi na nossa cidade, achei que era uma boa oportunidade.-

Há séculos que faleceste, não sei se ainda te lembras do País onde nasceste, mas fica descansado, porque daqui deste lado, todos os anos és lembrado.

Com pompa e circunstância e em tudo muita abundância!

Tive pena que não estivesses aqui para veres e ouvires aquilo que vi e ouvi!

Pede diretamente a Deus, ou mete uma “cunha” a Jesus Cristo e vem cá abaixo ver isto.

Claro que já não temos aquelas longínquas Terras, fruto das descobertas e outras por obra dos bravos conquistadores, já que o nosso País está reduzido ao retângulo continental e às regiões Autónomas da Madeira e dos Açores.

As últimas do nosso património a serem, digamos,” extintas”, foram as nossas Províncias Ultramarinas.

Nas negociatas, foram menos as pessoas sensatas, do que a quantidade de aldrabões, de modo que, não se sabe, se elas foram dadas, arrendadas ou vendidas aos talhões.

De qualquer modo vem cá abaixo, amigo e querido Camões.

Mas pede a Deus para te dar vista ao teu olho que não vê e eu já te digo porquê.

Nós temos políticos e governantes aos molhos, mas poucos veem o País com os dois olhos.

Durante anos Portugal foi governado por gente que só via de um lado. Com a vista DIREITA. Foi uma a governação desgraçada, tremendamente imperfeita.

De há longo tempo a esta parte – talvez por influência do diabo – o País tem sido mandado por gente que só usa a vista ESQUERDA e tem sido igualmente um descalabro, uma profunda tristeza.

Por isso se quiseres ver, como deve ser, o teu País, amigo Luís Camões, os teus dois olhos têm de estar em perfeitas condições.

Se só veres com um olho, juntar-te-ás à imensidão de “ zarolhos” que campeiam por aí, pelos campos e pelas cidades que não conseguem ver o País na sua completa realidade.

Voltando ao teu dia que é também DIA DE PORTUGAL houve uma festa ímpar, fenomenal.

Em parte, fez-nos lembrar o NATAL!

Aquele tempo quando o povo, coitadinho, levava o ano a juntar todos os tostãozinhos, passava dificuldades de penar, desde o comer ao vestir e ao calçar, para no NATAL desfrutar.

Ter mais comer e beber, foguetes e bombas para rebentar!

No DIA DE PORTUGAL é mais ou menos igual. Durante o ano aperta-se o povo, cada dia com um imposto novo, travam-se salários e pensões, deixam-se o número de pobres crescer aos turbilhões, para no DIA DE PORTUGAL não olharmos a despesas, darmos um ar de grandeza, aliviarmos o povo da tristeza.

Contudo, não penses que ao dizer isto só pretendo dizer mal. Tomara que todos os dias, MAS PARA TODOS OS PORTUGUESES, fosse DIA DE NATAL ou DIA DE PORTUGAL!

Antes de concluir esta escrita, de novo te peço, Camões, para cá vires fazer uma visita.

Como estamos em época de pandemia, não podes fazer aquela vida boémia que fazias, mas podes dedicar-te à tua fabulosa poesia, assim como à criação de novos amores, pois para isso ainda tens, o Continente, a Madeira e os Açores …e mulheres lindas como as flores!

Juvenal Pereira